Antero de Frias Moreira*
*Médico; Membro executivo do Centro Português de Sindonologia
Resumo:
Recentes noticias na Web questionam a autenticidade do
Sudário baseadas num estudo de imagem de um perito forense em recontrucção
facial.
Esse perito afirma que a imagem patente no Sudário é
incompatível com o envolvimento de um corpo humano, pois não apresenta
distorções.
Partindo da assumpção errónea que a imagem patente no Sudário
de Turim se produziu por um mecanismo de contacto, a conclusão do seu estudo
não tem qualquer fundamento e a autenticidade do Sudário não pode ser posta em
causa.
Palavras Chave: Sudário Imagem Contacto
Abstract:
Recent news in the Web question the authenticity of the
Shroud based on an image study by a forensic facial reconstruction expert.
This expert claims that the Shroud image is not compatible
with the wrapping of a human body because it does not evidence distortions.
Assuming the
wrong premise that the image on the
Shroud of Turin was only produced by a contact mechanism the conclusion of his
study is meaningless and the Shroud’s authenticity cannot be questioned on that
basis.
Key -words: Shroud Image Contact
Pesquisando na Web sobre o fascinante tema do Santo Sudário,
casualmente deparei-me com duas muito recentes noticias em língua inglesa que
de imediato atrairam a minha atenção.
A primeira, do «New York Post» sob rubrica Ciência, intitulada
«Shroud of Turin was not used to wrap Jesus’ body after crucifixion, bombshell
study asserts» https://nypost.com/2024/10/30/science/shroud-of-turin-was-not-used-to-wrap-jesus-body-after-crucifixion-bombshell-study-asserts/ , e a segunda num site informativo
católico, «Catholic Herald» com o titulo «Facial reconstruction expert uses 3D
software to show Shroud of Turin did not cover Christ» (a partir de noticia do
Daily Telegraph)
Ambos os títulos sugerem bombàsticamente que um perito
efectuou um estudo que descarta a possibilidade do Sudário de Turim ter sido a
mortalha funerária de Jesus Cristo mesmo que o tecido tenha 2000 anos.
Tendo lido atentamente o conteúdo dos artigos sinto-me no
dever de mais uma vez esclarecer quem se interesse pelo tema do Sudário, pela
partilha de conhecimento fidedigno sobre a Imagem Sindónica.
A argumentação:
Bàsicamente o perito brasileiro em software de reconstrução
facial forense Cicero Moraes utilizou uma reconstrução virtual em computador,
de um lençol a cobrir um corpo tal como no caso do Sudário, concluindo que após
a remoção do lençol, a imagem produzida nele patente, após o lençol ser
estendido aplanado, evidenciava distorções que não se observam na imagem do
Sudário.
Além disso, há áreas corporais que não aparecem na imagem do
Sudário, o que o leva a afirmar que a imagem patente no Sudário não poderia ser
de um corpo humano tridimensional, mas poderia ter sido obtida através de um
baixo relevo de uma figura humana.
Portanto o Sudário não mais seria do que uma obra de arte
cristã.
Para além deste estudo o artigo do New York Post faz outras
afirmações acessórias tais como o Sudário não ter documentação histórica antes
do seculo XIV e as conclusões do microscopista Walter McCrone de que a imagem
nele patente é uma pintura.
DISCUSSÃO
Relativamente às
afirmações acessórias, é absolutamente FALSO que não haja referências
históricas ao lençol funerário que está em Turim -o Sudário de Turim- antes de
1355, data da apresentação do Sudário de Cristo em Lirey-França.
Há efectivamente
múltiplas referências ao lençol funerário com a imagem corporal de Cristo, que
esteve em Constantinopla de 944 até 1204, quando desapareceu, roubado pelos
cruzados da 4ª Cruzada, reaparecendo cerca de 150 anos depois na referida
localidade de Lirey e sendo apresentado aos fiéis como o Sudário de Cristo.
Não iremos desenvolver mais este complexo tema histórico, mas
apenas recordar que o Sudário de Cristo de Constantinopla era o Pano de Edessa
(lençol funerário de Cristo com a imagem do Seu corpo, dobrado de forma a
evidenciar apenas a face) resgatado em 904 por ordem do Imperador bizantino
Romanus Lecapenus e que chegou a essa localidade a partir de Jerusalém, e é o
mesmo que actualmente se encontra em Turim.
Quanto à famosa teoria do microscopista Dr. Walter McCrone, que faz as delícias dos cépticos, de que a
imagem do Sudário é constituída por partículas de pigmento ocre vermelho numa
têmpera de colagénio, e as manchas sanguíneas tem a mesma composição adicionada
de cinábrio e portanto «o Sudário é uma bonita pintura, não obstante é o
trabalho de um artista», já foi absolutamente refutada pelos laboriosos estudos
(microscópicos, espectrofotometria incluindo espectroscoia Raman, EDX,
espectrometria de massa, múltiplos estudos químicos e outros) da equipe
cientifica multidisciplinar STuRP e dos bioquímicos Professor John Heller e
Alan Adler, que repouse em paz para todo o sempre.
Na nossa opinião a conclusão do perito Cicero Moraes parte de
UMA PREMISSA ERRADA.
Se a imagem patente no Sudário resultasse da passagem de um
pigmento à superfície de um corpo ou hipotético agente catalítico/outro que
produzisse uma imagem no tecido envolvente, sem dúvida que quando o lençol
fosse aplanado seriam observadas distorções (o que não se verifica na imagem
patente no Sudário de Turim).
Todavia este perito não tem sequer conhecimento??? de teorias
com suporte cientifico teórico e experimental, de formação de imagem num lençol
a partir de um corpo por ele envolvido, considerando outros mecanismos para
além do contacto, leia-se só para citar alguns exemplos a teoria do químico
Professor Raymond Rogers e da bioquímica Anna Arnoldi da reacção
Amino-Carbonilo e as várias teorias considerando emissão de energias radiantes
pelo corpo.
Foram feitas experiências com cadáveres cobertos com lençois
(nomeadamente pelo perito de medicina forense italiano Professor Romanese) nos
quais foram aplicados sensibilizantes ,tais como aloes, azeite e terebentina,
que reagiriam com secreções corporais, mas os resultados foram decepcionantes
com a obtenção de imagens grotescas e distorcidas, em nada semelhantes à Imagem
do Sudário de Turim.
Efectivamente a imagem corporal/facial patente no Sudário e
acordo com todos os estudos de físicos e peritos de imagem NÃO É UMA IMAGEM DE
CONTACTO, pois efectivamente áreas anatómicas que não estariam em contacto com
o tecido do lençol cobrindo o corpo, poderão produzir imagem no tecido, sendo a
respectiva tonalidade em termos de «intensidade» inversamente proporcional à
distância que a separa do tecido.
Sendo a imagem patente no Sudário de Turim um grande enigma
foram feitas muitas tentativas de reprodução da imagem, nomeadamente utilizando
um baixo relevo de figura humana, como sugerido pelo perito.
Todas as tentativas
foram mal sucedidas,
não conseguindo reproduzir a imagem do Sudário do ponto de vista macroscópico,
microscópico, físico e químico e de codificação tridimensional.
Apesar de ser conhecida a constituição química da imagem no
linho do tecido do Sudário (sabe-se que resultou de alterações químicas numa
fina camada polissacarídica envolvendo as fibras de linho mais superficiais com
desidratação, oxidação e conjugação, com formação de grupos carbonilo com
ligações duplas nos átomos de carbono), NÃO SE SABE AINDA QUAL A FORMA
ENERGÉTICA QUE PROVOCOU ESSAS TRANSFORMAÇÕES.
O que quer tenha produzido essas transformações químicas
teria actuado de uma forma colimada, direccional vertical paralela à linha da
gravidade, para cima e para baixo e com atenuação do efeito no tecido em função
da distância-daí o aspecto da imagem patente no Sudário.
O que se sabe através de múltiplos estudos fidedignos
publicados em revistas científicas credenciadas, é que a Imagem patente no
Sudário é seguramente do corpo de um flagelado e crucificado, e a tradição,
estudos históricos e científicos permitem-nos concluir legitimamente que esse
Corpo é de Jesus Cristo.
CONCLUSÃO
Mais uma vez os «Media» de uma forma sensacionalista e
recorrendo a um argumento «autoritativo» de um perito tentam desacreditar sem sucesso
o Santo Sudário de Turim e fazem um trabalho de mau jornalismo.
Sem desprestigio pelo estudo desse perito que assumiu de uma
forma simplista que a imagem patente no Sudário seria uma imagem de contacto, se
ele se tivesse dado ao trabalho de consultar os múltiplos estudos da Imagem
patente no Sudário publicados em credenciadas revistas científicas, talvez nem
se desse ao trabalho inutil de o realizar, pois parte de UMA PREMISSA ERRADA E
FALSA- A IMAGEM DO SUDÁRIO NÃO É UMA IMAGEM DE CONTACTO.
O Sudário de Turim é a mortalha que envolveu o Corpo de Nosso
Senhor Jesus Cristo onde estão plasmados a sangue todos os sofrimentos
experienciados na Sua Paixão e a enigmática Imagem corporal nele patente é a
evidência de que a Sua Ressurreição foi um fenómeno físico real que deixou a
sua marca naquele lençol.
Nota: não sendo este artigo, um artigo cientifico mas sim de
opinião, embora baseado em múltiplos estudos científicos publicados, não são
mencionadas as referencias bibliográficas de suporte no texto.
Referências:
- ADLER, Alan D. - "The Nature of
the Body Images on the Shroud of Turin" (.pdf
format) [34k] [June 1999] (From the 1999
Richmond Conference)
- FANTI, G. - BOTELLA, J.A. - DI LAZZARO, P. -
HEIMBURGER, T. - SCHNEIDER, R. - SVENSSON, N. - Microscopic
and Macroscopic Characteristics of the Shroud of Turin Image
Superficiality, Journal of Imaging Science and Technology,
[July/August 2010] Volume 54, Issue 4, pp. 040201-(8
- FANTI, G. - Can a Corona Discharge Explain the Body Image of
the Turin Shroud?,
Journal of Imaging Science and Technology, [March/April 2010] Volume 54,
Issue 2, pp. 020508-(11) (Abstract Only)
- JACKSON, J.P., E.J. JUMPER and W.R.
ERCOLINE, "Correlation of Image Intensity on the Turin
Shroud with the 3-D Structure of a Human Body Shape," Applied Optics, Vol. 23, No. 14, 1984, pp.
2244-2270. [8 October 2018]
- JACKSON, J.P., E.J. JUMPER and
W.R. ERCOLINE, "Three
Dimensional Characteristic of the Shroud Image," IEEE 1982 Proceedings of
the International Conference on Cybernetics and Society, October 1982, pp.
559-575. [8 October 2018]
- LATENDRESSE, Mario - “Evidence that the
Shroud was not Completely Flat during the Image Formation” (.pdf
format) [September
2005] (From the 3rd International Dallas Conference)
Link to Mario's Presentation - Slides: http://www.sindonology.org/papers/latendresse2005aSlides.pdf
SCAVONE, Professor Daniel - Greek Epitaphioi and Other Evidence
for the Shroud in Constantinople up to 1204 (.pdf format) [32k] [June
1999] (From the 1999 Richmond Conference)
SCHWALBE, L.A. and R.N. ROGERS, "Physics and Chemistry of the Shroud of Turin, A
Summary of the 1978 Investigation," Analytica Chimica Acta, Vol. 135, 1982, pp. 3-49. [8 October
2018]