sábado, 2 de novembro de 2024

AUTENTICIDADE DO SUDÁRIO MAIS UMA VEZ QUESTIONADA

 

                   

 

 

Antero de Frias Moreira*

*Médico; Membro executivo do Centro Português de Sindonologia

 

Resumo:

Recentes noticias na Web questionam a autenticidade do Sudário baseadas num estudo de imagem de um perito forense em recontrucção facial.

Esse perito afirma que a imagem patente no Sudário é incompatível com o envolvimento de um corpo humano, pois não apresenta distorções.

Partindo da assumpção errónea que a imagem patente no Sudário de Turim se produziu por um mecanismo de contacto, a conclusão do seu estudo não tem qualquer fundamento e a autenticidade do Sudário não pode ser posta em causa.

 

Palavras Chave: Sudário Imagem Contacto

 

Abstract:

Recent news in the Web question the authenticity of the Shroud based on an image study by a forensic facial reconstruction expert.

This expert claims that the Shroud image is not compatible with the wrapping of a human body because it does not evidence distortions.

Assuming  the wrong  premise that the image on the Shroud of Turin was only produced by a contact mechanism the conclusion of his study is meaningless and the Shroud’s authenticity cannot be questioned on that basis.

 

Key -words: Shroud Image Contact

 

Pesquisando na Web sobre o fascinante tema do Santo Sudário, casualmente deparei-me com duas muito recentes noticias em língua inglesa que de imediato atrairam a minha atenção.

A primeira, do «New York Post» sob rubrica Ciência, intitulada «Shroud of Turin was not used to wrap Jesus’ body after crucifixion, bombshell study asserts» https://nypost.com/2024/10/30/science/shroud-of-turin-was-not-used-to-wrap-jesus-body-after-crucifixion-bombshell-study-asserts/ , e a segunda num site informativo católico, «Catholic Herald» com o titulo «Facial reconstruction expert uses 3D software to show Shroud of Turin did not cover Christ» (a partir de noticia do Daily Telegraph)

https://catholicherald.co.uk/facial-reconstruction-expert-uses-3d-software-to-show-shroud-of-turin-did-not-cover-christ/

 

Ambos os títulos sugerem bombàsticamente que um perito efectuou um estudo que descarta a possibilidade do Sudário de Turim ter sido a mortalha funerária de Jesus Cristo mesmo que o tecido tenha 2000 anos.

 

Tendo lido atentamente o conteúdo dos artigos sinto-me no dever de mais uma vez esclarecer quem se interesse pelo tema do Sudário, pela partilha de conhecimento fidedigno sobre a Imagem Sindónica.

 

 

A argumentação:

 

Bàsicamente o perito brasileiro em software de reconstrução facial forense Cicero Moraes utilizou uma reconstrução virtual em computador, de um lençol a cobrir um corpo tal como no caso do Sudário, concluindo que após a remoção do lençol, a imagem produzida nele patente, após o lençol ser estendido aplanado, evidenciava distorções que não se observam na imagem do Sudário.

Além disso, há áreas corporais que não aparecem na imagem do Sudário, o que o leva a afirmar que a imagem patente no Sudário não poderia ser de um corpo humano tridimensional, mas poderia ter sido obtida através de um baixo relevo de uma figura humana.

Portanto o Sudário não mais seria do que uma obra de arte cristã.

Para além deste estudo o artigo do New York Post faz outras afirmações acessórias tais como o Sudário não ter documentação histórica antes do seculo XIV e as conclusões do microscopista Walter McCrone de que a imagem nele patente é uma pintura.

                                                       

 

 

                                              DISCUSSÃO

 

 Relativamente às afirmações acessórias, é absolutamente FALSO que não haja referências históricas ao lençol funerário que está em Turim -o Sudário de Turim- antes de 1355, data da apresentação do Sudário de Cristo em Lirey-França.

 Há efectivamente múltiplas referências ao lençol funerário com a imagem corporal de Cristo, que esteve em Constantinopla de 944 até 1204, quando desapareceu, roubado pelos cruzados da 4ª Cruzada, reaparecendo cerca de 150 anos depois na referida localidade de Lirey e sendo apresentado aos fiéis como o Sudário de Cristo.

Não iremos desenvolver mais este complexo tema histórico, mas apenas recordar que o Sudário de Cristo de Constantinopla era o Pano de Edessa (lençol funerário de Cristo com a imagem do Seu corpo, dobrado de forma a evidenciar apenas a face) resgatado em 904 por ordem do Imperador bizantino Romanus Lecapenus e que chegou a essa localidade a partir de Jerusalém, e é o mesmo que actualmente se encontra em Turim.

 

Quanto à famosa teoria do microscopista Dr. Walter McCrone,  que faz as delícias dos cépticos, de que a imagem do Sudário é constituída por partículas de pigmento ocre vermelho numa têmpera de colagénio, e as manchas sanguíneas tem a mesma composição adicionada de cinábrio e portanto «o Sudário é uma bonita pintura, não obstante é o trabalho de um artista», já foi absolutamente refutada pelos laboriosos estudos (microscópicos, espectrofotometria incluindo espectroscoia Raman, EDX, espectrometria de massa, múltiplos estudos químicos e outros) da equipe cientifica multidisciplinar STuRP e dos bioquímicos Professor John Heller e Alan Adler, que repouse em paz para todo o sempre.

 

 

Na nossa opinião a conclusão do perito Cicero Moraes parte de UMA PREMISSA ERRADA.

Se a imagem patente no Sudário resultasse da passagem de um pigmento à superfície de um corpo ou hipotético agente catalítico/outro que produzisse uma imagem no tecido envolvente, sem dúvida que quando o lençol fosse aplanado seriam observadas distorções (o que não se verifica na imagem patente no Sudário de Turim).

 

Todavia este perito não tem sequer conhecimento??? de teorias com suporte cientifico teórico e experimental, de formação de imagem num lençol a partir de um corpo por ele envolvido, considerando outros mecanismos para além do contacto, leia-se só para citar alguns exemplos a teoria do químico Professor Raymond Rogers e da bioquímica Anna Arnoldi da reacção Amino-Carbonilo e as várias teorias considerando emissão de energias radiantes pelo corpo.

 

Foram feitas experiências com cadáveres cobertos com lençois (nomeadamente pelo perito de medicina forense italiano Professor Romanese) nos quais foram aplicados sensibilizantes ,tais como aloes, azeite e terebentina, que reagiriam com secreções corporais, mas os resultados foram decepcionantes com a obtenção de imagens grotescas e distorcidas, em nada semelhantes à Imagem do Sudário de Turim.

 

Efectivamente a imagem corporal/facial patente no Sudário e acordo com todos os estudos de físicos e peritos de imagem NÃO É UMA IMAGEM DE CONTACTO, pois efectivamente áreas anatómicas que não estariam em contacto com o tecido do lençol cobrindo o corpo, poderão produzir imagem no tecido, sendo a respectiva tonalidade em termos de «intensidade» inversamente proporcional à distância que a separa do tecido.

 

Sendo a imagem patente no Sudário de Turim um grande enigma foram feitas muitas tentativas de reprodução da imagem, nomeadamente utilizando um baixo relevo de figura humana, como sugerido pelo perito.

Todas as tentativas foram mal sucedidas, não conseguindo reproduzir a imagem do Sudário do ponto de vista macroscópico, microscópico, físico e químico e de codificação tridimensional.

 

Apesar de ser conhecida a constituição química da imagem no linho do tecido do Sudário (sabe-se que resultou de alterações químicas numa fina camada polissacarídica envolvendo as fibras de linho mais superficiais com desidratação, oxidação e conjugação, com formação de grupos carbonilo com ligações duplas nos átomos de carbono), NÃO SE SABE AINDA QUAL A FORMA ENERGÉTICA QUE PROVOCOU ESSAS TRANSFORMAÇÕES.

O que quer tenha produzido essas transformações químicas teria actuado de uma forma colimada, direccional vertical paralela à linha da gravidade, para cima e para baixo e com atenuação do efeito no tecido em função da distância-daí o aspecto da imagem patente no Sudário.

 

O que se sabe através de múltiplos estudos fidedignos publicados em revistas científicas credenciadas, é que a Imagem patente no Sudário é seguramente do corpo de um flagelado e crucificado, e a tradição, estudos históricos e científicos permitem-nos concluir legitimamente que esse Corpo é de Jesus Cristo.

 

 

 

                                          CONCLUSÃO

 

Mais uma vez os «Media» de uma forma sensacionalista e recorrendo a um argumento «autoritativo» de um perito tentam desacreditar sem sucesso o Santo Sudário de Turim e fazem um trabalho de mau jornalismo.

 

Sem desprestigio pelo estudo desse perito que assumiu de uma forma simplista que a imagem patente no Sudário seria uma imagem de contacto, se ele se tivesse dado ao trabalho de consultar os múltiplos estudos da Imagem patente no Sudário publicados em credenciadas revistas científicas, talvez nem se desse ao trabalho inutil de o realizar, pois parte de UMA PREMISSA ERRADA E FALSA- A IMAGEM DO SUDÁRIO NÃO É UMA IMAGEM DE CONTACTO.

 

O Sudário de Turim é a mortalha que envolveu o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo onde estão plasmados a sangue todos os sofrimentos experienciados na Sua Paixão e a enigmática Imagem corporal nele patente é a evidência de que a Sua Ressurreição foi um fenómeno físico real que deixou a sua marca naquele lençol.

 

 

Nota: não sendo este artigo, um artigo cientifico mas sim de opinião, embora baseado em múltiplos estudos científicos publicados, não são mencionadas as referencias bibliográficas de suporte no texto.

 

Referências:

SCAVONE, Professor Daniel - Greek Epitaphioi and Other Evidence for the Shroud in Constantinople up to 1204 (.pdf format) [32k] [June 1999] (From the 1999 Richmond Conference) 

SCHWALBE, L.A. and R.N. ROGERS, "Physics and Chemistry of the Shroud of Turin, A Summary of the 1978 Investigation," Analytica Chimica Acta, Vol. 135, 1982, pp. 3-49. [8 October 2018]

 

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