domingo, 14 de setembro de 2025

NOVA POLÉMICA SOBRE A AUTENTICIDADE DO SUDÁRIO DE TURIM

 

NOVA POLÉMICA SOBRE A AUTENTICIDADE DO SUDÁRIO DE TURIM

 

Antero de Frias Moreira*

*Médico; membro executivo do Centro Português de Sindonologia

 

Resumo:

Em finais de Agosto a imprensa anunciou a descoberta de um manuscrito de cerca 1370 da autoria de um bispo francês filósofo racionalista, questionando a autenticidade do Sudário de Cristo presente na igreja de Lirey, tendo como base o culto generalizado de falsas reliquias , promovido por muitos eclesiásticos dessa época.

Nesta análise é demostrado o valor nulo dessa afirmação, assim como mais uma vez são abordados e sumàriamente rebatidos outros aspectos «clássicos» anti-autenticidade utilizados pelos cépticos e invocados pelos media para tentarem desacreditar o Santo Sudário.

 

 

 

A Polémica:

 

A «bomba» foi lançada em 28/08/2025 pelo jornal italiano «La Stampa» com o titulo «Sindone,lo scrito più antico  : Serviva a trufare i fedeli» https://www.lastampa.it/torino/2025/08/28/news/sindone_falso_truffa_fedeli-15285599/

Esse artigo afirmava basicamente que um perito da universidade Católica de Louvain (Bélgica) tinha encontrado um documento medieval, o mais antigo testemunho sobre o Sudário, que datava de 1370, e que confirmava que já na Idade Média se sabia que a relíquia não era autêntica.

 

Outros artigos com teor idêntico se seguiram dos quais referimos a titulo de exemplos

«The Independent» -«Newly uncovered medieval document adds evidence that the Shroud of Turin is fake» https://www.independent.co.uk/news/science/archaeology/shroud-of-turin-new-evidence-fake-b2816240.html

CNN Science: «Researchers find oldest written claim that the Shroud of Turin was faked https://edition.cnn.com/2025/09/04/science/shroud-of-turin-oresme-philosopher

Popular Mechanics: «Historian found a 600 Year –old Document Declaring the Shroud of Turin a Fraud» https://www.popularmechanics.com/science/archaeology/a65969645/oresme-fraud-shroud-of-turin/

 

Efectivamente Nicolas Sarzeau, um académico historiador da Universidade Católica de Louvain-Bélgica publicou na revista «Journal of Medieval History» o artigo «A New Document on the Appearance of the Shroud of Turin from Nicole Oresme: Fighting Fake Relics and False Rumours in the Fourteenth Century» https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/03044181.2025.2546884#abstract

Esse artigo tem como base um excerto de uma obra designada «Problemata» da autoria do bispo de Lisieux  Nicole Oresme, um teólogo e filosofo racionalista, cerca de 1370, onde ele afirmava que o Sudário de Cristo presente em Lirey era uma fraude destinada a enganar os fiéis.

Nesse excerto o Bispo Nicole Oresme afirma «…muitos clérigos enganam outros, induzindo-os a trazer ofertas para as suas igrejas. Isto é claro por um exemplo da igreja de Champagne (refere-se a Lirey onde estava o Sudário) onde é dito que estava o Sudário de Nosso Senhor Jesus Cristo, e de muitos semelhantes que inventaram isto e aquilo»

 

Nicolas Serzeaud afirma:

« A originalidade da posição de Oresme reside na sua tentativa de providenciar explicações racionais para fenómenos inexplicados, quer miraculosos ou prodigiosos, em vez de os interpretar como divinos ou demoníacos ou devido a uma influência desconhecida (influentia ignota)…»

 

Concerteza estas noticias lançaram polémica, até porque várias noticias de teor semelhante repescaram outros factos anti-autenticidade do Sudário mais ou menos recentes, (referimo-nos nomeadamente ao artigo de «estudo» da imagem do Sudário de Cicero Moraes, Testes radiocarbono 1988 e artigos de Walter McCrone) para em conjunto desacreditarem a autenticidade do Santo Sudário de Turim

Assim sendo, sinto que é minha obrigação esclarecer e repor a verdade.

 

 

Discussão/Esclarecimento

 

Infelizmente não é a primeira vez que temos conhecimento de elementos da Igreja a desacreditarem o Santo Sudário de Turim

 

Em 1900 o sacerdote francês Ulysse Chevalier , académico e historiador afirmava nos seus escritos que o Sudário de Turim era uma obra medieval pintada, baseando-se no famoso Manuscrito de Pierre D’Arcis, que teria sido enviado ao Papa Clemente VII em Avignon.

Existem dois rascunhos desse documento datado de 1389 na «Colecção Champagne» da Blibiothèque Nationale de France.

Fundamentalmente o Bispo Pierre D’Arcis da diocese de Troyes teria escrito que cerca de 30 anos antes o seu predecessor Henri de Poitiers concluiu que o Sudário exposto em Lirey pelo cavaleiro Geoffroy de Charny e sua esposa Jeanne de Vergy desde cerca 1355, seria uma pintura, e que sabia quem foi o pintor que a elaborou (sem indicar o nome…)

 

De acordo com o que foi apurado, essa atitude de carácter revanchista de Pierre D’Arcis o qual sequer nunca teria visto o Sudário, teria como base a disputa da posse do Sudário para este ser exibido sim na catedral de Troyes, a fim de receber as dádivas dos fiéis.

Apesar da sua pretensão, o Papa Clemente VII não decretou a transferência do Sudário de Lirey para Troyes e não impediu a veneração da Relíquia.

 

Posteriormente em 1903 Herbert Thurston, académico jesuíta racionalista e oponente da espiritualidade, veementemente afirmava num artigo anti-Sudário que escreveu «The Holy Shroud and the Verdict of History», que o Sudário de Turim era uma fraude, também com base na tese de Ulysse Chevalier/ Memorandum Pierre D’Arcis.

 

Hoje sabemos seguramente que o Sudário de Turim não é uma obra de arte pictórica pois estudos de microscopia, químicos e de espectrofotometria , espectrometria de massa e FFT (Fast Fourier Transform) excluem a pintura como forma de elaboração.

 

No que respeita ao escrito do Bispo Nicole Oresme um racionalista no seu tempo, não passa de uma afirmação sem qualquer fundamento.

Se efectivamente nessa época havia o culto das reliquias, e sem duvida a maior parte eram falsas, o referido eclesiástico nunca viu sequer o Sudário que estava em Lirey, e generalizou, fazendo uma afirmação sem conhecimento de causa-trata-se daquilo que se poderá designar «cepticismo indutivo» portanto o valor da sua afirmação É NULO

 

Assim, estas afirmações detractórias de homens da Igreja carecem de qualquer fundamento científico.

 

 

 Quanto aos outros aspectos considerados pelas noticias da Web, e que fazem as delícias dos cépticos, nomeadamente as conclusões do perito Cicero de Moraes, Testes radiocarbono 1988 e  teoria da pintura de Walter McCrone já devidamente escalpelizadas, recordamos:

 

O recente trabalho do Dr. Cicero Moraes perito de reconstrução facial 3D «Image Formation on the Shroud of Turin-A Digital 3D Approach» https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=5003510 já abordado em anterior post (02 de Novembro 2024) foi questionado, bem como em vários artigos de peritos.

Recordamos que esse perito, através de um modelo digital de um corpo envolto por um lençol concluiu que a imagem do Santo Sudário de Turim seria uma forma de arte sacra cristã obtida por contacto do lençol com um baixo relevo.

São ignorados aspectos da microscopia do Sudário, bem como as características físicas e químicas da imagem sendo assumido que a imagem do Sudário seria obtida por contacto-ora sabe-se que seguramente a Imagem do Sudário não se produziu apenas por contacto e as tentativas de reprodução exaustivamente estudadas pelos cientistas da equipe S.TuR.P. nomeadamente em baixos relevos foram um fracasso, o mesmo se pode dizer da mais recente tentativa, a «face» do «Sudário de Garlaschelli» produzida por «frottage» com acido sulfúrico diluído e corante azul de cobalto num tecido de linho colocado sobre uma mascara em baixo relevo a imitar a face do Sudário, que cobria a face de um voluntário.

Além disso não considera as manchas de sangue que foram impressas no tecido do Sudário previamente à imagem….

Para terminar, esse perito não reproduziu nenhuma imagem semelhante à do Sudário de Turim, apenas tentou «explicar» a imagem por meios digitais de uma forma virtual partindo da premissa errónea de que a Imagem do Sudário de Turim era uma imagem de contacto.

 

Quanto à teoria do microscopista Walter McCrone de que a Imagem do Sudário é uma pintura à base de uma têmpera de colagénio e pigmento ocre vermelho e as manchas sanguíneas teriam a mesma composição com a adição de vermilião (sulfureto de mercúrio) ela foi completamente refutada pelos estudos da equipe S.Tu.R.P. e dos bioquímicos Alan Adler e John Heller-definitivamente a Imagem do Sudário não é uma pintura

 

Para terminar faltavam os famigerados testes radiocarbono 1988 que dataram uma única amostra do tecido do Sudário de 1260-1390.

Não iremos desenvolver os argumentos de refutação da validade desses testes, amplamente explicados em múltiplos artigos científicos publicados em revistas credenciadas.

Recordaremos apenas que NÃO HÁ HOMOGENEIDADE DE DATAÇÃO DAS SUB AMOSTRAS DOS 3 LABORATÓRIOS ( Tucson Oxford e Zurich), e a amostra recolhida não era representativa do resto do tecido do Sudário, consoante estudos de microscopia, químicos e de espectrometria de massa e de cinética da degradação da vanilina.

Para além disso estudos de datação de tecidos por métodos alternativos apontam para a possibilidade de o tecido do Sudário de Turim ser do século I -atente-se nos estudos do Professor Giulio Fanti de 2015, e mais recentemente de 2022, do Professor Liberato de Caro, utilizando o método WAXS (acrónimo de wide angle RX scattering).

 

Curiosamente, a imprensa Web que tanto divulgou esse estudo em finais de 2024 afirmando que afinal o tecido do Sudário era do século I e portanto o Sudário seria autêntico, vem agora com este argumento absurdo em grandes parangonas, para negar a autenticidade do Sudário.

Faço um paralelo com o relato evangélico de S. João no qual a multidão que ovacionou Jesus Cristo no Domingo de Ramos passado dias gritava «crucifica-O»……..

 

 

                                             CONCLUSÃO

 

Mais uma vez assistimos a exemplos de mau jornalismo de caracter sensacionalista.

A afirmação de um erudito racionalista do século XIV que repudiava o culto de relíquias e que tendo chegado ao seu conhecimento que na Igreja de Lirey estaria aquela que era considerada o lençol funerário de Cristo com a imagem do Seu corpo e imediatamente afirmou sem sequer o observar, que era falsa para enganar os fieis, poderá até certo ponto ser compreensível no contexto da época, não obstante tal conclusão  contra a autenticidade do Sudário tem pois um valor ZERO.

Todavia com todo o conhecimento cientifico sobre o Santo Sudário adquirido ao longo de mais de 100 anos, utilizar este argumento em títulos sensacionalistas reforçado por argumentos dos detractores já devidamente rebatidos é absolutamente lamentável.

Enfim, não resisto a ser mais assertivo e termino com um conhecido dizer popular «Os cães ladram e a caravana passa».

 

 

Nota final: aconselhamos a leitura em língua inglesa, do excelente artigo sobre este tema, do académico Alessandro Piana intitulado «Shroud , a Rumour ina Medieval Document Peddled as Proof» https://www.uccronline.it/eng/2025/08/29/shroud-a-rumor-in-a-medieval-document-peddled-as-proof/?fbclid=IwY2xjawMfRWRleHRuA2FlbQIxMQABHpVBJBhcUiFR6P1nnE84O6n4Q3xUjcAlzoW4ZqFzYR-rx9YKSIP63TfojGi9_aem_qJx6h7dgNKuSqes1v9FAdw 

 

 

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