AS MANCHAS SANGUINEAS DO SANTO SUDÁRIO DE TURIM-RESPOSTA A VÁRIAS
QUESTÕES
Antero de Frias Moreira*
*Médico-Membro executivo do
Centro Português de Sindonologia
Março 2022
Resumo:
De acordo com os estudos científicos sobre as
Manchas Sanguineas patentes no Santo Sudário, nomeadamente os mais recentes, é
inequivocamente descartada a teoria de que correspondam a uma elaboração
artística com pigmentos pictóricos, concluindo-se que são efectivamente de
natureza hemática, correspondendo a exsudados de coágulos transpostos para o
tecido pelo contacto com coágulos na superfície de um corpo, não havendo ainda
explicação definitiva para a sua coloração avermelhada.
Do ponto de vista bioquímico há
evidencia de extrema violência, o que é corroborado pela análise detalhada dos
vários tipos de manchas patentes, concluindo-se do ponto de vista
médico-forense que o Homem do Sudário foi flagelado com chicote romano, sofreu
tortura com aplicação de um capacete de espinhos, e foi crucificado nos punhos
e pés com cravos, sendo a Sua morte confirmada com perfuração toráxica por uma
lança.
O Sudário de Turim como
significado religioso, é portanto o verdadeiro testemunho da Paixão de Cristo e também da Sua
Ressurreição
Palavras-Chave; Manchas
Sanguineas, Coágulos, Sudário de Turim, Homem do Sudário
Abstract:
Accordingly to the scientific studies on the
Bloodstains of the Shroud of Turin, namely the most updated ones, the theory
that they are an artistic rendition using pictoric pigments is unequivocally
discarded, and it is concluded for their hematic nature, corresponding to blood
exsudates impressed on the cloth from
clots at the surface of a corpse, however there is not yet a definitive
explanation for their reddish color.
From a biochemical point of view there is
evidence of an extreme violence which is confirmed by the detailed analysis of
the several kinds of bloodstains on the cloth and it is concluded from a
forensic medical point of view that the Man of the Shroud was scourged with a
roman whip, endured a helmet of thorns torture, and was crucified with nails in
the wrists and feet and His death was confirmed by having His chest wall
pierced with a spear.
The religious meaning of the Shroud of Turin is
thus it is the real witness of Christ’s Passion and also of His Resurrection
Key Words: Bloodstains , Clots, Shroud of
Turin, Man of the Shroud
O Santo Sudário de Turim, como se
sabe é um extenso lençol de linho onde é possível visualizar as enigmáticas
imagens da região dorsal e ventral do corpo de um Homem desnudado, bem como
inúmeras manchas de tonalidade avermelhada, sendo o conjunto altamente evocador
da imagem de um flagelado e crucificado à maneira romana, e que a tradição,
estudos históricos e múltiplos estudos científicos permitem concluir que se
trate do lençol funerário adquirido por José de Arimatheia que envolveu o Corpo
de Nosso Senhor Jesus Cristo no sepulcro, o qual tem patente a imagem do Seu
corpo com as marcas da Paixão,
Independentemente da imagem corporal
cuja explicação não foi ainda encontrada pela ciência, é legitimo inquirir se
as manchas avermelhadas correspondem efectivamente a material hemático (sangue
ou «derivados» de sangue).
Nos anos 30 do século passado o
eminente cirurgião do Hospital de S. Joseph-Paris Professor Pierre Barbet, que
foi um dos pioneiros do estudo médico-forense do Santo Sudário, tendo
visualizado de perto a Sagrada Reliquia numa Ostensão (exibição publica). de
imediato identificou as manchas avermelhadas como de natureza hemática,
provenientes do contacto do tecido com coágulos sanguíneos na superfície
corporal.
Fig 1-Santo Sudário-visualizam-se imagens
corporais da região ventral e dorsal manchas sanguíneas tenuemente visiveis
Fig.2-Microfotografia de mancha sanguínea
do Sudário sendo aparente material hemático sobre os fios de linho
Fig.3-Santo Sudário: esquema das
regiões corporais ventral e dorsal com realce das manchas sanguineas
Em 1973 o Vaticano autorizou uma
comissão científica a estudar esta questão, todavia os testes de pesquisa de
sangue foram negativos.
Sendo que o alegado material
hemático seria muito antigo e muito seco,
a dita comissão concluiu que «a resposta negativa às investigações
conduzidas não nos permitem um julgamento absoluto sobre a natureza hemática do
material investigado».
Em 1978 a equipe multidisciplinar
S.TuR.P. utilizando a fluorescência de RX, e estudos de microquímica concluíram
pela ausência de pigmentos corantes ou fixantes nas fibras do linho, o que foi
confirmado por estudos de espectrometria.
De realçar que a fluorescência de
RX concluiu pela presença sensivelmente uniforme de Ferro no tecido (resultante
da preparação do linho) com aumento de concentração nas áreas correspondentes
às manchas sanguíneas como seria de esperar, pois a hemoglobina dos glóbulos
rubros contém ferro ligado ao grupo porfirinico Heme.
Para além disso os estudos de
espectrometria realizados em áreas hemáticas eram compatíveis com o padrão de
sangue, apresentando uma deflexão compatível com Metahemoglobina (resultante da
oxidação da Hemoglobina no sangue envelhecido)
A Controvérsia:
Em finais dos anos 80 o
investigador microscopista Dr. Walter McCrone inicialmente colaborador da
equipe S.TuR.P. teve acesso a amostras recolhidas da superfície do Sudário e
encontrou partículas que identificou como óxido de ferro, e posteriormente
caracterizou como cinábrio (sulfureto de mercúrio) residuos numa
amostra proveniente da zona da ferida da lança.
Sendo um céptico da autenticidade
do Sudário e também pelo facto de os estudos de fluorescência de RX da equipe
S.TuR.P. não terem detectado potássio nas manchas sanguíneas, elaborou a
seguinte teoria:
O Sudário seria uma pintura, em
que a imagem seria constituída por partículas de óxido de ferro do pigmento pictórico
Ocre Vermelho numa tempera de colagénio, e as manchas de tonalidade sanguínea
teriam a mesma composição com a cor vermelha realçada pela adição de cinábrio (vermillião)-portanto
o Sudário mais não seria que uma elaboração artística.
O Desfazer da Controvérsia:
Os investigadores bioquímicos
americanos colaboradores da equipe S.TuR.P. Professores Alan Adler e John
Heller empreenderam uma elaborada investigação laboratorial nas amostras que a
muito custo o Dr. Walter McCrone devolveu, no sentido de refutarem a sua
teoria.
Sendo um estudo exaustivo
realçaremos apenas os pontos principais,
para não embarcar em aspectos técnicos fastidiosos.
Efectivamente o Dr. Walter
McCrone cometeu um erro técnico ao concluir que as micropartículas eram todas
de óxido de ferro, pois efectuou estudos de microscopia de luz polarizada SEM
REMOVER as partículas da película Mylar que cobria as lâminas-ora essa película
tem características ópticas que falseiam a determinação dos índices de
refracção das partículas.
Efectivamente existem 2 tipos de
partículas: as birrefringentes correspondentes a óxido de ferro PURO
(resultante da oxidação do ferro naturalmente presente no tecido e da combustão
de efectivo material hemático das manchas sanguíneas aquando do incêndio de
Chambéry em 1532) e outras não birrefringentes, de carácter proteináceo que se
concluiu corresponder a material hemático.
No que concerne às primeiras (as
birrefringentes) são efectivamente de óxido de ferro puro pois a fluorescência
de RX descartou a presença de contaminantes como o níquel cobalto e manganésio
presentes no pigmento Ocre Vermelho, as segundas, não birrefringentes reagem
positivamente na pesquisa de proteínas pois elas são efectivamente material
hemático.
McCrone concluiu pela presença de
um aglutinante tempera de colagénio pois utilizou o reagente Negro de Amido, o
qual não é especifico para detecção de Proteinas, pois reage com grupos
carboxilo da celulose envelhecida do linho, dando falsos-positivos.
Os investigadores Professores John
Heller e Alan Adler utilizando um método muito sensível e especifico para
detecção de proteínas-A Fluorescamina- concluíram não existir qualquer tempera
de colagénio nas fibras imagem e não imagem apenas tendo resultado positivo no
suposto material hemático, como seria de esperar.
Quanto à presença de resíduos de
cinábrio (Vermillião) trata-se de um achado incidental explicado pelo facto de
ter passado para o tecido do Sudário pois era prática «santificar»(com
autorização da Igreja) cópias pintadas do Sudário pela colocação das mesmas
sobre o Santo Sudário o que explica facilmente a passagem de partículas
estranhas nomeadamente resíduos pictóricos.
Se a presença de cinábrio fosse
responsável pela cor mais avermelhada das manchas sanguíneas do Sudário a
presença de mercúrio seria prontamente detectada pela fluorescência de RX-o que
não se verificou, e para além disso nas imagens de fotografias de RX do Sudário
dos estudos S.TuR.P. não são aparentes as manchas sanguíneas, o que só
aconteceria se lá existisse o elemento mercúrio do cinábrio- Portanto só por
isto a teoria de McCrone poderia ser descartada- O SUDÁRIO NÃO É UMA PINTURA.
Assim se esclarecendo esta
controvérsia realço das conclusões do estudo dos citados bioquímicos:
Presença do grupo heme da
Hemoglobina(constituinte dos glóbulos vermelhos do sangue) consoante detecção
da característica «banda Soret» ( pico de absorção pelos 410 nm) nos estudos de
microespectrometria de fibras.
Concentração de Ferro compatível
com a do sangue
Presença de Albumina (estudos
imunológicos e químicos)e de Globulinas (estudos imunológicos)
Através da utilização de EDXA
(Técnica de «Energy Dispersive X-Ray Analysis»)foi determinada a presença nas
fibras de manchas sanguíneas de Sódio Potássio Cloro Calcio Ferro Magnésio, todos elementos constituintes do sangue- de
realçar que na investigação S.TuR.P. não foi detectado potássio pois a
fluorescência de RX não era suficientemente sensível para as baixas
concentrações desse ion,l e também como explicou o Professor Alan Adler o
potássio é um ion predominantemente intra-celular e as manchas sanguíneas tem escassez
de células pois a maior parte ficam retidas nas malhas de fibrina dos coágulos.
Cai pois por terra a famosa frase
de McCrone «No potassium, no blood».
Elevada concentração de
bilirrubina (elemento sanguíneo resultante do catabolismo do grupo heme da
hemoglobina dos glóbulos rubros que sofreram um processo de lise por stress
traumático e oxidativo) consoante estudos por micro- espectrofotometria FTIR e
microquímicos.
Portanto indubitavelmente o
material analisado era de natureza HEMÁTICA (sangue ou derivado de sangue).
Também do outro lado do Atlântico
o Professor Baima Bollone docente catedrático de Patologia Forense da
Universidade de Turim ,chegou independentemente às mesmas conclusões, e para
além disso determinou a presença de glóbulos rubros do sangue (escassos como
seria de esperar) caracterizou o material hemático como do grupo sanguíneo AB e
talvez mais importante ainda através de estudos imunohistoquimicos de amostras
recolhidas de manchas hemáticas do Sudário determinou a presença do Antigénio S
(do sistema sanguíneo MNS)o que permite afrmar a natureza HUMANA do material
hemático.
A presença de glóbulos rubros de
morfologia humana, foi detectada numa pequena amostra recolhida numa área
facial do Sudário com mancha sanguínea, consoante estudo mais recente do
Professor Gerard Lucotte do Instituto de Antropologia Molecular de Paris
Mais recentemente o físico
Professor Paolo di Lazzaro do instituto de investigação italiano E.N.E.A.
efectuou novos estudos de espectrometria em manchas sanguíneas do Sudário em
2015 sendo constatada uma inflexão pelos 550 nm, o que confirmou a presença de
Metahemoglobina já anteriormente detectada nos estudos S.TuR.P. de 1978.
Este cientista afirmou . «os
nossos resultados de espectroscopia são uma evidência adicional que as manchas
sanguíneas no Sudário contém sangue muito antigo».
Mencionamos também o facto de
terem sido efectuados estudos de ADN nuclear em material proveniente de manchas
sanguíneas do Sudário nos anos 90 do século passado, aspecto desenvolvido em
anterior artigo-ora o ADN só existe em células nucleadas do sangue e não em
simulacros artísticos com pigmentos pictóricos.
SEM QUALQUER DUVIDA AS MANCHAS
SANGUINEAS DO SANTO SUDÁRIO SÃO DE MATERIAL HEMÁTICO HUMANO DO GRUPO SANGUINEO
AB (não foi possível determinar o RH) CORRESPONDENDO A EXSUDADOS DE COÁGULOS
SOBRE AS LESÕS DA SUPERFICIE CORPORAL e que foram transpostos para o tecido por
um mecanismo de contacto.
O investigador Dr. Gilbert Lavoie
médico internista intensivista americano, determinou experimentalmente o tempo
que teria de decorrer após a paragem circulatória (morte) para obtenção de
transposição para tecido de linho de exsudados de coágulos com aspecto
semelhante aos do Sudário, em condições presumivelmente idênticas às do
envolvimento do Homem do Sudário (Jesus Cristo) por um lençol funerário no
sepulcro.
Foi assumido que um ambiente húmido permitiria
a humidificação dos coágulos, o que permitiria a sua transposição para o tecido
num intervalo até cerca de 2 horas e meia.
Curiosamente, nessas condições as
manchas hemáticas deveriam ter contornos mal definidos , o que não acontece nas
manchas hemáticas do Santo Sudário, aspecto muito curioso referido por vários
investigadores nomeadamente o patologista forense Professor Baima
Bollone-adiante aludiremos a este facto.
Questão: Será possível que um falsário tenha pintado com sangue humano
as manchas sanguíneas do Santo Sudário?
Vamo-nos abstrair do facto de que
até à presente data não se sabe cientificamente o que produziu a imagem
corporal no Sudário e também NÃO FOI POSSIVEL REPRODUZIR UMA IMAGEM COM AS
MESMAS CARACTERISTICAS MACROSCÓPICAS FISICAS E QUIMICAS.
Efectivamente há múltiplas
manchas sanguíneas correspondendo a variados tipos de lesões, nomeadamente
perfurações arteriais, venosas, capilares, contusões hemorrágicas, sangue
pre-mortem e post mortem, o que inviabiliza tal acção em termos artísticos.
Além disso a maioria das manchas
sanguíneas tem à sua volta um halo de soro que só se torna aparente nas
fotografias de fluorescência de Ultra-Violetas soro esse extrudido pela
retracção fisiológica do coágulo-aspecto que não se verificaria se o sangue fosse
pura e simplesmente pintado e também teria de ser sangue com elevado teor de
bilirrubina não conjugada.
Não menos importante o seguinte
facto: os investigadores Professores John Heller e Alan Adler atrás citados
aplicaram enzimas proteoliticas (tripsina, quimotripsina, carboxipeptidase e
lisozima) em fibras de manchas sanguíneas suprajacentes a áreas de imagem, e o
resultado foi que as fibras do linho assim tratadas, não apresentavam a
coloração das fibras da imagem adjacente-ora este achado tem como corolário o
seguinte- AS MANCHAS SANGUINEAS PRODUZIRAM-SE PRIMEIRO NO TECIDO E SÓ DEPOIS SE
FORMOU A IMAGEM CORPORAL, e as manchas sanguíneas como que constituíram uma
barreira à acção do que quer que tenha causado as transformações químicas com
produção de cor nas fibras-imagem.
Como é que o suposto falsário iria
pintar as manchas sanguíneas lesionais sem ter uma imagem corporal como
referência?
Este é pois um obstáculo incontornável
de todas as tentativas de «reprodução humana» do Sudário de Turim, mesmo a
tentativa mais perfeita até à presente data-referimos o «Sudário de
Garlaschelli»- não conseguiu contornar este aspecto.
Para concluir, os investigadores
da equipe S.TuR.P Jean Lorre e Donald Lynn aplicaram a técnica de análise de
pinturas FFT (iniciais de Fast Fourier Transform) no Sudário de Turim na imagem
corporal e manchas sanguíneas e pelo ´padrão isotrópico» obtido concluíram pela
AUSENCIA DE PINCELADAS»
NÃO UM FALSÁRIO NUNCA PODERIA TER
PINTADO COMSANGUE AS MANCHAS SANGUINEAS DO SUDÁRIO
Questão: As manchas sanguíneas do Santo Sudário, tem uma coloração
demasiado avermelhada, atendendo à alegada antiguidade das mesmas-como explicar
tal facto?
Realmente a maioria dos
investigadores admite que a tonalidade das manchas sanguíneas do Sudário tem
uma tonalidade estranhamente avermelhada, pois sabe-se que com o passar do
tempo o sangue vai adquirindo uma tonalidade acastanhada com progressivo
escurecimento pela oxidação do ferro da hemoglobina ligado ao grupo heme, com
produção de metahemoglobina.
Foram propostas várias teorias
explicativas, nomeadamente acção da saponária officinalis (produto vegetal
utilizado na preparação do tecido de linho na antiguidade),com acção
hemolítica, interacção da metahemoglobina com elevados níveis de bilirrubina,
potencial adição humana de pigmentos pictóricos nas manchas para realçar a cor
(teoria recentemente descartada pelo físico italiano Professor Giulio Fanti)
presença de carboxihemoglobina, acção de radiação ultravioleta sobre a
bilirrubina.
Por curiosidade referimos uma
hipótese meramente especulativa, formulada pelo Dr. Kelly Kearse, eminente
estudioso do Sudário:
Sabendo que há plantas que contem
o composto bilirrubina quimicamente idêntico à humana e que simultaneamente
podem proporcionar um pigmento laranja-avermelhado, ele ESPECULA que um artista
para realçar a cor, poderia ter utilizado o pigmento pictórico proveniente
dessa planta e sem o saber ter introduzido um incremento de bilirrubina nas
manchas sanguíneas.
A planta na qual foi encontrada
bilirrubina idêntica à humana é a «Strelitzia Nicolai» conhecida como a «Ave
Branca Gigante do Paraiso» e é originária da Africa do Sul, Moçambique e
Botswana.
Lògicamente esta hipótese é
absurda pois essa região do continente africano só foi conhecida em finais do
século XV com as viagens dos navegadores portugueses, (recordamos que o Sudário
foi mostrado na Europa em 1356) e para além disso sabemos que o método FFT
(Fast Fourier Tranasform) descartou a presença de pinceladas no Sudário- NÃO,
NÃO FOI APLICADA QUALQUER PINTURA COM PIGMENTO VEGETAL NAS MANCHAS HEMÁTICAS DO
SUDÁRIO
Até à presente data NÃO EXISTE
UMA EXPLICAÇÃO PLAUSIVEL todavia a que experimentalmente se aproxima mais dos
achados no Sudário é referente aos estudos da equipe do Professor Paolo di
Lazzaro sobre os efeitos da radiação Ultra Violeta em sangue com elevado teor
de bilirrubina tendo sido obtida coloração avermelhada e que perdurou ao longo
de anos.
DESCRIÇÃO E SIGNIFICADO DAS
VÁRIAS MANCHAS HEMÁTICAS NO SANTO SUDÁRIO
Depois de termos seguramente
concluído que as manchas hemáticas não são uma elaboração artística e são sim
material hemático correspondente a exsudados de coágulos, iremos então abordar
os diferentes tipos de manchas observáveis
Fig. 4- Face positivo(esquerda) e
negativo (direita)fotográficos, aparentes diversas imagens lesionais
nomeadamente de lesões perfurantes.
Lesões perfurantes na cabeça
Na região da cabeça é possível
definir múltiplas lesões perfurantes de estruturas arteriais, venosas e
capilares, produzindo trajectos perfeitamente aparentes bem como lesões mais do
tipo circular/oval e o famoso épsilon ou 3 invertido, sensivelmente a meio da
testa.
O patologista forense Dr. Sebastiano
Rodante estima em cerca de 50 (incluindo regiões laterais, posterior da cabeça
e nuca) o numero de perfurações produzidas por um objecto de tortura
correspondendo a um capacete de espinhos que perfuraram o couro cabeludo
atingindo o craneo e lesionando à direita o ramo frontal da artéria temporal
superficial, à esquerda a estrutura venosa homóloga, e no centro a mancha em
«épsilon» resultou de perfuração da veia frontal- todas as lesões estão de
acordo com a anatomia vascular da região.
No que concerne trajectos
sanguíneos laterais na região do cabelo as opiniões divergem pois há peritos como o Dr Gilbert Lavoie que
experimentalmente concluiu que elas se teriam originado a partir do contacto
com a face, e quando a imagem se formou ficaram supra jacentes ao cabelo,
outros afirmam que se localizam realmente no cabelo.
Importante o facto de que as
marcas sanguíneas do Sudário na região posterior da cabeça/nuca , correspondem
às encontradas no Pano ou Sudarium de Oviedo (consoante foi concluído por sobreposição
informática de imagem e pela técnica de «Polarized Image Overlay Technique
concebida pelo investigador Dr. Alan Whanger).
Recordamos que o Pano de Oviedo
se encontra em Espanha desde o século VII e corresponde ao «sudário» enrolado
aparte, do episódio do tumulo vazio de Evangelho de S. João, e esteve colocado
sobre a cabeça de Jesus após a Sua morte quando ainda se encontrava na cruz.
Lesões de flagelação:
Fig 5: Região dorsal-visiveis
múltiplas lesões correspondentes a flagelação com chicote romano
Em mais de 60% da superfície
corporal do Homem do Sudário, particularmente na região dorsal, nádegas e
região dorsal dos membros inferiores são visíveis cerca de 120 lesões com a
forma sensivelmente de halteres, cerca de 3 cm de comprimento, e que nas
fotografias de fluorescência de Ultra Violetas exibem um halo fluorescente à
sua volta correspondente a soro.
Essas lesões correspondem a uma
brutal flagelação com o chicote romano tipo «flagrum taxillatum», consoante um
idêntico instrumento de tortura recuperado em achados arqueológicos na cidade
romana de Herculaneum, sepultada sob a lava da erupção do Vesúvio em 79 A.D.
Esse chicote tinha 2 a 3 tiras de
couro cujas extremidades possuíam bolas de metal (plumbatae) ou ossos para
provocar mais sofrimento no condenado.
Consoante concluíram os estudos
de patologia forense, o Homem do Sudário foi brutalmente chicoteado por 2 carrascos,
um de cada lado sendo o da direita mais alto que o da esquerda.
Também e ainda na imagem corporal
dorsal é possível visualizar a nível das omoplatas particularmente à direita
imagens de abrasão cutânea consentâneas com o porte de um objecto pesado, neste
caso o «patibulum» que é a porção horizontal da cruz.
Lesões de Crucificação:
Fig 6: Sudário de Turim, imagem
ventral-visível local de saída do cravo no punho esquerdo e trajectos
sanguíneos nos antebraços.
São perfeitamente patentes lesões
de crucificação com cravos sendo
aparente na imagem ventral, a nível da região dorsal do punho esquerdo o
local de saída do cravo, topograficamente na região do designado espaço de
Destot (espaço virtual entre os ossos do carpo semi-lunar, piramidal, grande
osso e ganchoso) e 2 extrusões sanguíneas fazendo um ângulo de cerca de 15º,
para além dos trajectos das escorrências nos antebraços.
Estas lesões são perfeitamente
compatíveis com escorrências sanguíneas na posição de crucificação, ou seja com
os membros superiores fazendo um ângulo de cerca de 65º com vertical, pois o seu trajecto foi determinado
por acção da gravidade.
Curiosamente, os trajectos que
extrudem do punho esquerdo correspondem segundo o Professor Pierre Barbet às 2
posições que o crucificado tinha na cruz.
Assim o crucificado tinha extrema
dificuldade em expirar e para o fazer passava de uma posição baixa para outra
mais elevada através de um extremo sofrimento pela força exercida no cravo que
transfixiava os pés e no dos punhos, e assim se teriam produzidos esses dois
trajectos divergentes,
A nível dos pés as imagens
lesionais são pouco claras na imagem corporal ventral, enquanto que na dorsal a impressão plantar do pé
direito é um misto de imagem corporal e extrusões sanguíneas pre e post mortem,
definindo-se o local de transfixiação do pé na região do 2º espaço
intermetatarsiano.
De referir que apenas é visível a
imagem da porção posterior do pé esquerdo, o qual foi colocado sobre o dorso do
pé direito tendo o carrasco transfixiado os 2 pés de uma assentada com um único
cravo.- esta posição foi mantida pelo rigor mortis (rigidez cadavérica post
morte) após a remoção da cruz.
Ferida da Lança:
Fig.7: Ferida da lança no
hemitorax direito
Na região do hemitorax direito é
possível visualizar uma extensa mancha hemática com cerca de 16 cm de
comprimente e 5 cm na sua maior largura,
a nível superior, com zonas mais claras correspondendo a um fluido de derrame
cavitário, e que também fluoresce à radiação ultra-violeta.
Na região superior, correspondente
à zona antero-lateral do 5º espaço intercostal,
os patologistas forenses definiram uma zona sensivelmente ovalar com
cerca de 4X1 centimetros correspondente
ao local de perfuração do hemitorax direito sendo as dimensão compatível com as
lanças romanas.
Efectivamente nesse local , com
uma angulação ascendente de cerca de 20º e após um percurso de 8-10 centimetros,
após perfurar as pleuras e o pulmão, a lança atinge a auricula direita(cavidade
cardíaca), a qual se encontra repleta de sangue após a morte.
Assim se explica a presença de
sangue e de um fluido mais claro de derrame pericardico ou pleural, devido às
brutais sevicias traumáticas sofridas pelo Homem do Sudário.
Deste modo, ciência
médico-forense dá uma explicação para a passagem do capitulo XIX do Evangelho
de S. João onde está escrito que o soldado da guarnição vendo que Jesus já
estava morto, não Lhe quebrou as pernas mas perfurou-Lhe o lado com uma lança
donde brotou sangue (proveniente da auricula direita) e «água» (o fluido claro
de derame pericardico ou pleural)
Na imagem corporal dorsal existem
manchas sanguíneas também extensas, com aspecto mais linear-o chamado cinto de
sangue (Blood Belt) resultante do refluxo de sangue proveniente da veia cava
inferior, através da auricula direita e
do trajecto perfurante no tórax.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
De tudo o que foi exposto podemos
seguramente assumir que as manchas sanguíneas presentes no Sudário, nunca
poderão corresponder a uma qualquer elaboração artística.
Elas resultam sim da transposição
para o tecido de exsudados de coágulos,
pelo contacto corporal deste com os coágulos sanguíneos das múltiplas
lesões sofridas pelo Homem do Sudário.
A nível bioquímico, há evidencia
de extrema violência, pelo elevado teor de bilirrubina do soro, confirmada pelo
recente achado dos estudos do Professor Giulio Fanti e colaboradores, numa
fibra proveniente da zona do pé na imagem dorsal do Sudário.
Efectivamente foram encontradas
nanoparticulas de creatinina envolvendo nanoparticulas de ferritina consoante
achado em politraumatizados graves,
Duma maneira geral, as manchas
hemáticas estão perfeitamente bem definidas com rebordos nítidos, e quando
observadas ao microscópio localmente, tem os rebordos elevados e depressão
central- este facto permite retirar duas conclusões, a primeira que o corpo não
permaneceu mais de 30 horas envolto no lençol, caso contrário a fibrinólise
(mecanismo fisiológico de dissolução do coágulo )impediria essa boa definição.
A segunda ilação ainda mais mais
importante-NÃO HÁ EXPLICAÇÃO COMO O CORPO POSSA TER SIDO REMOVIDO DO LENÇOL.
As manchas sanguineas do Santo
Sudário permitem do ponto de vista médico-forense caracterizar o tipo de lesões , inferir o
objecto ou objectos agressores e mesmo sequenciar os eventos lesionais que
levaram à morte o Homem do Sudário, e também inferir o imenso sofrimento que
lhe foi infligido.
As manchas sanguíneas para além
de serem uma narrativa escrita a sangue dos sofrimentos que Nosso Senhor Jesus
Cristo sofreu na Sua Paixão, são mais um argumento que corrobora o episódio do
Tumulo Vazio, e para acreditarmos que a Ressurreição foi um evento físico que
aconteceu naquele frio túmulo há cerca de 2000 anos.
Para além disso, os Cristãos que em cada celebração eucarística se ajoelham em sinal de devoção e respeito, na
consagração do vinho como sangue do Redentor, poderão contemplar sim na sua
materialidade no Santo Sudário, o autêntico Sangue de Cristo plasmado naquele
sagrado lençol que envolveu o Seu Corpo, e que é a testemunha da Sua
Ressurreição
Nota: não sendo este artigo um
artigo científico na devida acepção, não referenciamos nos locais do texto os
artigos científicos que lhe serviram de suporte.
BIBLIOGRAFIA:
Livros:
A Paixão de Cristo segundo o
Cirurgião-Dr.Pierre Barbet Edições Loyola, S. Paulo 1980
Unlocking the Secrets of the Shroud-A Forensic
and Scriptural Study of the Shroud of Turin-Dr. Gilbert R. Lavoie, M.D. , dog
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Artigos científicos:
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Frank: Further Spectroscopic Investigations of Samples of the Shroud of Turin ,
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