segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

PARTICULAS MINERAIS DO SUDÁRIO-ABORDAGEM DE SÍNTESE

 

                           PARTICULAS MINERAIS DO SUDÁRIO- ABORDAGEM DE SÍNTESE

 

Fevereiro 2023

 

 

Antero de Frias Moreira*

 

*Médico-Especialista de Medicina Física e de Reabilitação: Membro executivo do Centro Português de Sindonologia

 

 

Resumo: Após apresentação da síntese dos aspectos principais dos artigos científicos sobre o estudo de partículas minerais presentes no Sudário, conclui-se que o mesmo apresenta indiscutivelmente partículas de minerais oriundos da Palestina, transferidos para o tecido por contacto com regiões anatómicas do Homem do Sudário, e a partir do meio ambiente.

Estes estudos contribuem significativamente para descartar a hipótese da teoria de elaboração medieval europeia do Sudário, e corroboram aspectos da Paixão de Cristo, segundo os Evangelhos.

 

Palavras-chave: Sudário, partículas minerais

 

Abstract: After the presentation of a synthesis of the main aspects of scientific papers on the study of mineral particles on the Shroud  it is concluded that the Shroud has undoubtedly mineral particles from Palestine that were transfered by contact with anatomical body areas of the Man of the Shroud and from the environment.

Those studies provide an important contribution to discard the Shroud’s european medieval fakery theory, and support the Gospel’s narrative of aspects of the Passion of Christ

 

Key- words: Shroud, mineral particles

 

 

 

Introdução

 

Em consonância com o titulo, admitimos que é um tema algo árido, eventualmente não muito motivante para o público em geral, mas como veremos, com muita importância no estabelecimento do percurso histórico do Sudário, nomeadamente quando integrado com outros  elementos, nomeadamente os estudos palinológicos, e os mais recentes estudos de ADN de cloroplastos de plantas e de ADN mitocondrial humano patentes no tecido do Sudário.

 

Aquando da famosa investigação StuRP ( acrónimo de Shroud of Turin Research Project) de 1978 foram realizados por uma equipe multidisciplinar vários estudos «in loco» do Sudário de Turim, entre os quais de Espectrometria, a cargo do casal de investigadores Roger e Marty Gilbert.

Estes investigadores constataram  que a zona correspondente à imagem das impressões plantares (na imagem dorsal) apresentava um padrão diferente do resto do Sudário.

Outro elemento da equipe, o físico óptico Sam Pellicori examinou a área de interesse com um microscópio com ampliação 500X e concluiu que isso se devia à presença de poeiras correspondentes a partículas minerais amareladas, transpostas para o tecido pelos pés de alguém que caminhou descalço.

Foi também determinado que a nível do joelho esquerdo e do nariz também havia «contaminação» com poeiras.

Este foi pois o preludio para os estudos subsequentes dos quais iremos resumir o essencial

 

 

Estudos de Particulas Minerais

 

1)Estudos de Eugenia Nitowski,e Joseph Kohlbeck (1986)

 

O químico professor Rogers da equipe STuRP entregou material recolhido do Sudário (região da impressão plantar) ao cristalógrafo Dr. Joseph Kohlbek do Hercules Aerospace Division, o qual caracterizou partículas aderentes a fibras do linho como carbonato de cálcio (calcário).

Essa amostra tinha uma elevada concentração de carbonato de cálcio e também evidenciava pequenas quantidades de ferro e estrôncio.

Entretanto a arqueóloga Drª Eugenia Nitowski trouxe de Jerusalém amostras de calcário dos antigos túmulos escavados na rocha, para estudo comparativo de partículas.

 

Segundo Kohlbeck as partículas da amostra do Sudário e as do calcário dos antigos túmulos, são de mineral Travertino-Aragonite diferindo do ponto de vista de estrutura cristalina, da variedade mais comum calcite.

Esta cristaliza duma forma «romboédrica, enquanto  a aragonite cristaliza na forma «ortorrômbica».

A Aragonite forma-se em condições mais restritas que a calcite, e além disso as ditas amostras do calcário de Jerusalém também continham pequenas quantidades de ferro e estrôncio mas não chumbo.

 

 

Estudos adicionais pelo Dr. Ricardo Levi-Setti do Enrico Fermi Institute da Universidade de Chicago, comparando as amostras do calcário dos túmulos de Jerusalém e o calcário da amostra do Sudário, por «High Resolution Scanning Ion Microprobe» (que compreende a espectroscopia Raman), obteve gráficos cujos padrões são essencialmente idênticos «excepto para ínfimas porções de linho que não puderam ser separadas do cálcio do Sudário e causaram uma ligeira variação orgânica».

Kohlbeck refere que « tais achados (por si só) não provam que o Sudário veio de Jerusalém mas tal origem seria uma muito razoável explicação para a presença de Aragonite.

Por outro lado aqueles que afirmam que o Sudário é uma fraude do século XIV devem explicar como a Aragonite foi lá parar».

Além disso, a composição da referida amostra era diferente da de oito amostras de calcáreos recolhidas em vários locais de Israel.

 

 

2) Estudos do professor Gerard Lucote(2012)

 

Este cientista do Instituto de Antropologia Molecular de Paris, recebeu em 2005 do Professor Giovanni Riggi di Numana (que integrou a equipe StuRP em 1978) uma pequena amostra de forma triangular medindo  1,36X0.614 milimetros recolhida de uma área sanguínea da face do Sudário muito próxima do nariz.

Nela existem múltiplas partículas de natureza inorgânica e orgânica nomeadamente poléns  e glóbulos vermelhos (aspectos  fora do âmbito deste estudo)

Através de um estudo exaustivo  de microscopia nomeadamente de luz polarizada,, microscopia de scanning , microfluorescência e EDX (energy dispersive X.Ray) pode caracterizar inúmeras partículas minerais aderentes à fita adesiva da amostra, as quais constituem 82% das partículas.

Entre outras detectou partículas de carbonato de cálcio/calcário, partículas de sílica , argilas ( nomeadamente illiite e montmorilonite que é uma variedade de smectite) e outras, sendo que a proporção das mesmas e a presença  de gesso e óxido de ferro «indica uma natureza de solo correspondendo a climas desérticos ou semi-desérticos».

Além disso encontrou alguns minerais argilosos ( misturas de montmorilonites/iliites constituídos por partículas ricas em potássio com elevado conteúdo em cálcio, contendo inclusões de ferro e titânio).

Esse tipo de minerais  foram utilizados em pigmentos para colorir um fóssil do período Paleolítico Médio encontrado no local de «Es-skhul no Monte Carmelo em Israel.

Este cientista afirma «Portanto estas misturas de minerais argilosos constituem uma verdadeira  assinatura  geológica desta região geográfica».

 

 

3) Análise de micropartículas aspiradas do Sudário de Turim  (2015)

 

As investigadoras Drªs Irene Calliari e Caterina Canovarro da Universidade italiana de Pádua, estudaram partículas provenientes de materiais aspirados da parte posterior do Sudário pelo já referido Professor Riggi di Numana em 1978 e 1988 (aquando da remoção da famosa amostra para teste radiocarbono).

Esse material estava devidamente referenciado em termos de localização no Sudário, e guardado em recipientes específicos.

Foram estudadas fibras vegetais, polens, esporos , partículas orgânicas biológicas e minerais, sendo apenas estas ultimas objecto  da nossa atenção.

Foram utilizados sofisticados métodos laboratoriais nomeadamente metalização de partículas com ouro, microscopia óptica, microscopia de luz polarizada e EDX (energy dispersive X-Ray).

Detectaram-se partículas minerais de tonalidade avermelhada (contém ferro) que chamaram a atenção pois não são comuns no solo do norte de Itália, onde o Sudário se encontra há seculos.

Tendo sido constatado que o solo de Jerusalém contem muitas partículas semelhantes, foi efectuado um estudo comparativo entre esse tipo de partículas, neste caso com amostra de solo do Monte Sião.

O padrão obtido nos gráficos de EDX é francamente semelhante, e segundo as investigadoras «embora análises mais detalhadas sejam necessárias para uma completa identificação, essas partículas são muito semelhantes às das argilas de Jerusalém, (e de outras áreas mediterrânicas influenciadas pelos ventos do deserto do Sahara).Parecem pertencer à família das  Iliites-Smectites, também contendo gesso».

 

 

4) Estudos de partículas minerais no Pano de Oviedo pela equipe EDICES do Centro Espanhol de Sindonologia

 

O Pano ou Sudarium de Oviedo é uma peça de tecido de linho medindo cerca de 84X 53 centímetros com manchas sanguíneas e de fluido de edema pulmonar (não apresenta imagem) que se encontra na Península Ibérica desde o inicio do século VII, actualmente na Catedral de S. Salvador em Oviedo-Espanha, e que a tradição, estudos históricos e científicos permitem concluir que se trate do pano que envolveu a cabeça de Jesus Cristo morto na cruz, e corresponde ao «sudário enrolado aparte» do capitulo XX do evangelho de S. João.

A par do Sudário de Turim, são pois duas relíquias com estreita relação com Jesus Cristo, havendo coincidência morfológica e topográfica relativamente a manchas sanguíneas nelas presentes.

Assim sendo foi realizado um estudo do Pano de Oviedo em múltiplos pontos (áreas «limpas» e zonas de manchas sanguíneas), recorrendo ao método Fluorescência de RX no sentido de pesquisar presença de elementos com número atómico superior a 16, bem como sua concentração e verificar a esse nível relação entre as duas relíquias.

Foram também utilizados controles, nomeadamente um tecido com diferentes concentrações de carbonato de cálcio (pó de travertino-aragonite).

 

Desse estudo realçamos que foi concluído que a concentração de cálcio era superior nas áreas de manchas sanguíneas, por aderência das partículas minerais aos fluidos, particularmente na zona da mancha correspondente à extremidade do nariz, tal como acontecia no Sudário de Turim.

Foi efectuada comparação entre a relação Calcio/Estrôncio em partículas de calcário do solo do Calvário (Jerusalém) e na zona referida do nariz, sendo os valores próximos, portanto as poeiras corresponderão a solo de Jerusalém tal como no caso do Sudário.

 

 

 

                                           DISCUSSÃO

 

Temos de concordar com o céptico Dr. Hugh Farey, que efectivamente os resultados publicados pelos elementos da equipe STuRP no que concerne aos estudos de Fluorescência de RX e de Espectrometria são dificilmente conciliáveis com a presença de poeiras nas áreas mencionadas, todavia o físico polaco Jan Jaworski analisando em pormenor as concentrações de cálcio e estrôncio em vários «spots» afirma que embora do ponto de vista da Fluorescência de RX, a concentração de cálcio seja sensivelmente uniforme no tecido do Sudário, há efectivamente uma maior concentração na mensuração na área dos pés (na imagem dorsa)l, o que foi explicado ulteriormente pela caracterização das ditas partículas minerais como carbonato de cálcio sob a forma de travertino-aragonite.

 

Mesmo esse céptico não contradiz a afirmação do físico óptico Sam Pellicori da equipe STurP quando ele afirmou «a observação visual da área do calcanhar com uma ampliação de 500X revela a presença de partículas amareladas muito pequenas sugerindo poeira, e a área do nariz pode conter também poeiras ou material cutâneo residual».

O investigador John Jackson também da equipe STuRP corrobora esse achado afirmando «na impressão plantar dorsal o exame de 1978 descobriu uma abundância de poeira microscópica atípica do resto da imagem .Isto  com certeza é consistente com o conceito da transferência de partículas dos pés descalços de um homem, para o Sudário».

 

Já no que respeita aos gráficos do Professor Levi-Setti referentes ao estudo das partículas dos pés esse céptico afirma que foram «adaptados» pela arqueóloga Eugénia Nitowski  e que são «quantitativamente» diferentes.

Não nos parece que isso corresponda à realidade, e para além disso o Professor Levi-Setti concluiu, recordamos, que os padrões dos gráficos são essencialmente idênticos excepto para ínfimas porções de linho que não puderam ser separadas do cálcio do Sudário e causaram uma ligeira variação orgânica.

 

No que respeita à presença de poeiras no joelho esquerdo efectivamente não haverão amostras recolhidas dessa zona, mas esse achado foi afirmado por vários investigadores que contactaram directamente com o Sudário.

 

 

Processo de transferência das Poeiras Minerais

 

O mecanismo de passagem das poeiras minerais foi essencialmente por dois processos:

 

Contacto com regiões anatómicas corporais como planta de pés descalços, nariz e joelho esquerdo, bem como áreas da face onde teriam aderido a material hemático ainda liquefeito (como foi o caso no Pano de Oviedo).

No que respeita à presença de poeiras minerais na região do nariz e joelho, os estudos forenses permitem concluir que o Homem do Sudário sofreu queda com contacto no solo dessas áreas anatómicas.

No que concerne às poeiras plantares foi já dito que passaram para o tecido do Sudário por transferência a partir da planta dos pés de alguém que caminhou descalço nesses solos.

As poeiras minerais também terão sido transferidas para o tecido do Sudário por contacto directo com superfícies, nomeadamente tumulares ou solo, ou mesmo por acção de ventos.

 

 

 

 

Comprovação da presença de partículas minerais da região da Palestina

 

Vários investigadores, em diferentes épocas e estudando amostras colhidas em várias zonas concluíram que o Sudário apresenta múltiplas partículas minerais da região da Palestina, nomeadamente da zona dos antigos túmulos de Jerusalém da época de Cristo.

Os estudos do Professor Lucotte apoiam as conclusões da equipe EDICES no Pano de Oviedo, pois foram efectuados numa amostra próxima do nariz, não obstante a equipe espanhola não caracterizou o tipo de partículas de carbonato de cálcio / calcário, verificando-se  a mesma situação relativa às partículas minerais na região nasal e joelho esquerdo do Sudário de Turim.

 

 

 

 

Contribuição para a autenticidade do Sudário:

 

O facto de que as partículas minerais nas regiões anatómicas referidas serem apenas tènuamente visíveis à vista desarmada, e o facto de efectivamente serem de minerais presentes em calcáreos e argilas da Palestina, dificulta extraordinariamente a teoria da elaboração medieval europeia do Sudário por um alegado falsário.

Além disso deixamos à apreciação dos leitores esta absurda hipótese:

No  Pano de Oviedo, apenas após estudos de medicina forense foi determinada a zona correspondente ao nariz, em finais do século passado.

Essa zona apresenta como vimos partículas minerais de carbonato de cálcio, em correspondência com a área homóloga do Sudário.

Assim sendo, o alegado falsário do seculo XIV teria de ter conhecimento do Pano de Oviedo, bem guardado num relicário da Catedral, e duma forma furtiva!!! aplicar exactamente numa área restrita poeiras minerais de solo da Palestina, por sorte!! exactamente numa localização que cerca de 600 anos depois se concluiria corresponder à área do nariz……!!!!

 

Estes estudos, embora por si só não comprovem a autenticidade do Sudário, mas sem dúvida são um importante elemento que concorre nesse sentido, e mais um aspecto para cientificamente descartar a teoria tão propalada da elaboração medieval do Sudário.

Para além disso são mais um dado que corrobora aspectos dos relatos evangélicos da Paixão de Cristo.

 

 

 

 

 

                                         CONCLUSÃO

 

Os estudos de partículas minerais presentes no Sudário de Turim, permitem concluir que essa peça de tecido esteve na Palestina, nomeadamente na região do Calvário e dos antigos túmulos de Jerusalém,  e são mais um dado para descartar as teorias de elaboração medieval europeia do Sudário, e suportam os relatos evangélicos de que Jesus caminhou( descalço) para o local do derradeiro suplicio, tendo sofrido queda(s) no percurso, consoante lesões evidenciadas pela patologia forense a nível do joelho esquerdo e do nariz, e após a Sua morte foi sepultado num túmulo adquirido por José de Arimatheia.

 

 

 

 

 

Nota: Não sendo este artigo, um artigo científico na devida acepção do termo, não são referenciados no texto as referencias  bibliográficas.

Não obstante elas são mencionadas nas Referências Bibliográficas e sempre que disponivel com link para acesso online  

 

 

 

 

 

Referências Bibliográficas:

 

1-Barta, C. , Alvarez, R., Ordoñes , A., Sanchez, A., GarciaJ. «New ccoincidence between Shroud of Turin and Sudarium of Oviedo», Research team of Spanish Center of Sindonology  2015 https://www.shs-conferences.org/articles/shsconf/pdf/2015/02/shsconf_atsi2014_00008.pdf

 

 

2-Bucklin, Robert, M.D., J.D. « The Shroud of Turin: Viewpoint of a Forensic Pathologist» , Shroud Spectrum International No 5 Part 3 https://www.shroud.com/pdfs/ssi05part3.pdf  

 

 

3-Farey, Hugh «Limestone on the Shroud» , The Medieval Shroud , April 24 2021 https://medievalshroud.com/limestone-on-the-shroud/ 

 

4-Jackson, John P. «The radiocarbono Date and how the Image was formed on the Shroud, Shroud Spectrum International No. 28/29 part 3 1988 https://www.shroud.com/pdfs/ssi2829part3.pdf

 

5-Jaworski, Jan S. «Chemical analysis of the Shroud»  https://leksykonsyndonologiczny.pl/en/history-of-the-research-on-the-shroud/chemical-analyses-of-the-shroud/

 

6-Jones, Stephen E, #Dirt 30: the evidence is overwhelming that the Shroud is authentic,Thursday December 27 , 2918 http://theshroudofturin.blogspot.com/2018/12/dirt-30-other-marks-and-images-evidence.html

 

 

 

 

7-Kohlbeck , Joseph A. , Nitowski, Eugenia L. « New Evidence May Explain Image on Shroud of Turin : Chemical Tests Link Shroud to Jerusalem» Biblical Archology review, vol 12 no 4 July/August  1986, pp 18-29 https://faithconnector.s3.amazonaws.com/stmutah/files/new_evidence_may_explain_image_on_shroud_of_turin_biblical_archaeology_review_july_august_1986_vol_xii_no_4_fast_load.pdf

 

8-Lucotte, Gerard «Optical and chemical characteristics of the mineral particles found on the face of the Turin Shroud  Scientific Research and Essays Vol. 7 (29), pp.2545-2553, 30 July 2012

http://www.academicjournals.org/article/article1380797812_Lucotte.pdf
http://dx.doi.org/10.5897/SRE12.383  

 

9-Morris,R.A., Schwalbe, L.A. London, J.R. «X-Ray Fluorescence Investigation of the Shroud of Turin, Shroud of Turin ResearchProject Inc.1980  https://www.shroud.com/pdfs/XRay%20Fluorescence%20Morris%20Schwalbe%20London%201980%20OCRsm.pdf

 

10-Pellicori, S. and M.S. Evans «The Shroud of Turin through the Microscope, Archeology January/February 1981 pp. 34-43 https://www.shroud.com/pdfs/Shroud%20Thru%20Microscope%20Pellicori%20Evans%201981%20OCRsm.pdf

 

11-Schwalbe, R.A., Rogers R.N. «Physics and Chemistry of the Shroud of Turin a summary ofthe 1978 Investigation, Analytica Chimica Acta, 135 (1982)3-49 Elsevier Scientific Publishing Company, Amsterdam https://www.shroud.com/pdfs/Physics%20Chemistry%20of%20Shroud%20Schwalbe%20Rogers%201981%20OCRsm.pdf     

quinta-feira, 24 de março de 2022

AS MANCHAS SANGUINEAS DO SANTO SUDÁRIO DE TURIM:RESPOSTA A VÁRIAS QUESTÕES

 

AS MANCHAS SANGUINEAS DO SANTO SUDÁRIO DE TURIM-RESPOSTA A VÁRIAS QUESTÕES

 

Antero de Frias Moreira*

*Médico-Membro executivo do Centro Português de Sindonologia

Março 2022

Resumo:

 De acordo com os estudos científicos sobre as Manchas Sanguineas patentes no Santo Sudário, nomeadamente os mais recentes, é inequivocamente descartada a teoria de que correspondam a uma elaboração artística com pigmentos pictóricos, concluindo-se que são efectivamente de natureza hemática, correspondendo a exsudados de coágulos transpostos para o tecido pelo contacto com coágulos na superfície de um corpo, não havendo ainda explicação definitiva para a sua coloração avermelhada.

Do ponto de vista bioquímico há evidencia de extrema violência, o que é corroborado pela análise detalhada dos vários tipos de manchas patentes, concluindo-se do ponto de vista médico-forense que o Homem do Sudário foi flagelado com chicote romano, sofreu tortura com aplicação de um capacete de espinhos, e foi crucificado nos punhos e pés com cravos, sendo a Sua morte confirmada com perfuração toráxica por uma lança.

O Sudário de Turim como significado religioso, é portanto o verdadeiro testemunho  da Paixão de Cristo e também da Sua Ressurreição

Palavras-Chave; Manchas Sanguineas, Coágulos, Sudário de Turim, Homem do Sudário

 

Abstract:

Accordingly to the scientific studies on the Bloodstains of the Shroud of Turin, namely the most updated ones, the theory that they are an artistic rendition using pictoric pigments is unequivocally discarded, and it is concluded for their hematic nature, corresponding to blood exsudates  impressed on the cloth from clots at the surface of a corpse, however there is not yet a definitive explanation for their reddish color.

From a biochemical point of view there is evidence of an extreme violence which is confirmed by the detailed analysis of the several kinds of bloodstains on the cloth and it is concluded from a forensic medical point of view that the Man of the Shroud was scourged with a roman whip, endured a helmet of thorns torture, and was crucified with nails in the wrists and feet and His death was confirmed by having His chest wall pierced with a spear.

The religious meaning of the Shroud of Turin is thus it is the real witness of Christ’s Passion and also of His Resurrection

Key Words: Bloodstains , Clots, Shroud of Turin, Man of the Shroud

 

 

O Santo Sudário de Turim, como se sabe é um extenso lençol de linho onde é possível visualizar as enigmáticas imagens da região dorsal e ventral do corpo de um Homem desnudado, bem como inúmeras manchas de tonalidade avermelhada, sendo o conjunto altamente evocador da imagem de um flagelado e crucificado à maneira romana, e que a tradição, estudos históricos e múltiplos estudos científicos permitem concluir que se trate do lençol funerário adquirido por José de Arimatheia que envolveu o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo no sepulcro, o qual tem patente a imagem do Seu corpo com as marcas da Paixão,

Independentemente da imagem corporal cuja explicação não foi ainda encontrada pela ciência, é legitimo inquirir se as manchas avermelhadas correspondem efectivamente a material hemático (sangue ou «derivados» de sangue).

Nos anos 30 do século passado o eminente cirurgião do Hospital de S. Joseph-Paris Professor Pierre Barbet, que foi um dos pioneiros do estudo médico-forense do Santo Sudário, tendo visualizado de perto a Sagrada Reliquia numa Ostensão (exibição publica). de imediato identificou as manchas avermelhadas como de natureza hemática, provenientes do contacto do tecido com coágulos sanguíneos na superfície corporal.

 

 

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 Fig 1-Santo Sudário-visualizam-se imagens corporais da região ventral e dorsal manchas sanguíneas tenuemente visiveis

 

 

Descrição: C:\Users\Antero\Pictures\bloodweaveWilsonIllustratedP75_650.jpg


Fig.2-Microfotografia de mancha sanguínea do Sudário sendo aparente material hemático sobre os fios de linho

 

 

Descrição: C:\Users\Antero\Pictures\blood marks enhanced.jpg


 

Fig.3-Santo Sudário: esquema das regiões corporais ventral e dorsal com realce das manchas sanguineas

 

Em 1973 o Vaticano autorizou uma comissão científica a estudar esta questão, todavia os testes de pesquisa de sangue foram negativos.

Sendo que o alegado material hemático seria muito antigo e muito seco,  a dita comissão concluiu que «a resposta negativa às investigações conduzidas não nos permitem um julgamento absoluto sobre a natureza hemática do material investigado».

Em 1978 a equipe multidisciplinar S.TuR.P. utilizando a fluorescência de RX, e estudos de microquímica concluíram pela ausência de pigmentos corantes ou fixantes nas fibras do linho, o que foi confirmado por estudos de espectrometria.

De realçar que a fluorescência de RX concluiu pela presença sensivelmente uniforme de Ferro no tecido (resultante da preparação do linho) com aumento de concentração nas áreas correspondentes às manchas sanguíneas como seria de esperar, pois a hemoglobina dos glóbulos rubros contém ferro ligado ao grupo porfirinico Heme.

Para além disso os estudos de espectrometria realizados em áreas hemáticas eram compatíveis com o padrão de sangue, apresentando uma deflexão compatível com Metahemoglobina (resultante da oxidação da Hemoglobina no sangue envelhecido)

 

A Controvérsia:

Em finais dos anos 80 o investigador microscopista Dr. Walter McCrone inicialmente colaborador da equipe S.TuR.P. teve acesso a amostras recolhidas da superfície do Sudário e encontrou partículas que identificou como óxido de ferro, e posteriormente caracterizou como   cinábrio (sulfureto de mercúrio) residuos numa amostra proveniente da zona da ferida da lança.

Sendo um céptico da autenticidade do Sudário e também pelo facto de os estudos de fluorescência de RX da equipe S.TuR.P. não terem detectado potássio nas manchas sanguíneas, elaborou a seguinte teoria:

O Sudário seria uma pintura, em que a imagem seria constituída por partículas de óxido de ferro do pigmento pictórico Ocre Vermelho numa tempera de colagénio, e as manchas de tonalidade sanguínea teriam a mesma composição com a cor vermelha realçada pela adição de cinábrio (vermillião)-portanto o Sudário mais não seria que uma elaboração artística.

 

O Desfazer da Controvérsia:

Os investigadores bioquímicos americanos colaboradores da equipe S.TuR.P. Professores Alan Adler e John Heller empreenderam uma elaborada investigação laboratorial nas amostras que a muito custo o Dr. Walter McCrone devolveu, no sentido de refutarem a sua teoria.

Sendo um estudo exaustivo realçaremos  apenas os pontos principais, para não embarcar em aspectos técnicos fastidiosos.

Efectivamente o Dr. Walter McCrone cometeu um erro técnico ao concluir que as micropartículas eram todas de óxido de ferro, pois efectuou estudos de microscopia de luz polarizada SEM REMOVER as partículas da película Mylar que cobria as lâminas-ora essa película tem características ópticas que falseiam a determinação dos índices de refracção das partículas.

Efectivamente existem 2 tipos de partículas: as birrefringentes correspondentes a óxido de ferro PURO (resultante da oxidação do ferro naturalmente presente no tecido e da combustão de efectivo material hemático das manchas sanguíneas aquando do incêndio de Chambéry em 1532) e outras não birrefringentes, de carácter proteináceo que se concluiu corresponder a material hemático.

No que concerne às primeiras (as birrefringentes) são efectivamente de óxido de ferro puro pois a fluorescência de RX descartou a presença de contaminantes como o níquel cobalto e manganésio presentes no pigmento Ocre Vermelho, as segundas, não birrefringentes reagem positivamente na pesquisa de proteínas pois elas são efectivamente material hemático.

McCrone concluiu pela presença de um aglutinante tempera de colagénio pois utilizou o reagente Negro de Amido, o qual não é especifico para detecção de Proteinas, pois reage com grupos carboxilo da celulose envelhecida do linho, dando falsos-positivos.

Os investigadores Professores John Heller e Alan Adler utilizando um método muito sensível e especifico para detecção de proteínas-A Fluorescamina- concluíram não existir qualquer tempera de colagénio nas fibras imagem e não imagem apenas tendo resultado positivo no suposto material hemático, como seria de esperar.

Quanto à presença de resíduos de cinábrio (Vermillião) trata-se de um achado incidental explicado pelo facto de ter passado para o tecido do Sudário pois era prática «santificar»(com autorização da Igreja) cópias pintadas do Sudário pela colocação das mesmas sobre o Santo Sudário o que explica facilmente a passagem de partículas estranhas nomeadamente resíduos pictóricos.

Se a presença de cinábrio fosse responsável pela cor mais avermelhada das manchas sanguíneas do Sudário a presença de mercúrio seria prontamente detectada pela fluorescência de RX-o que não se verificou, e para além disso nas imagens de fotografias de RX do Sudário dos estudos S.TuR.P. não são aparentes as manchas sanguíneas, o que só aconteceria se lá existisse o elemento mercúrio do cinábrio- Portanto só por isto a teoria de McCrone poderia ser descartada- O SUDÁRIO NÃO É UMA PINTURA.

Assim se esclarecendo esta controvérsia realço das conclusões do estudo dos citados bioquímicos:

Presença do grupo heme da Hemoglobina(constituinte dos glóbulos vermelhos do sangue) consoante detecção da característica «banda Soret» ( pico de absorção pelos 410 nm) nos estudos de microespectrometria de fibras.

Concentração de Ferro compatível com a do sangue

Presença de Albumina (estudos imunológicos e químicos)e de Globulinas (estudos imunológicos)

Através da utilização de EDXA (Técnica de «Energy Dispersive X-Ray Analysis»)foi determinada a presença nas fibras de manchas sanguíneas de Sódio Potássio Cloro Calcio Ferro Magnésio,  todos elementos constituintes do sangue- de realçar que na investigação S.TuR.P. não foi detectado potássio pois a fluorescência de RX não era suficientemente sensível para as baixas concentrações desse ion,l e também como explicou o Professor Alan Adler o potássio é um ion predominantemente intra-celular e as manchas sanguíneas tem escassez de células pois a maior parte ficam retidas nas malhas de fibrina dos coágulos.

Cai pois por terra a famosa frase de McCrone «No potassium, no blood».

Elevada concentração de bilirrubina (elemento sanguíneo resultante do catabolismo do grupo heme da hemoglobina dos glóbulos rubros que sofreram um processo de lise por stress traumático e oxidativo) consoante estudos por micro- espectrofotometria FTIR e microquímicos.

Portanto indubitavelmente o material analisado era de natureza HEMÁTICA (sangue ou derivado de sangue).

Também do outro lado do Atlântico o Professor Baima Bollone docente catedrático de Patologia Forense da Universidade de Turim ,chegou independentemente às mesmas conclusões, e para além disso determinou a presença de glóbulos rubros do sangue (escassos como seria de esperar) caracterizou o material hemático como do grupo sanguíneo AB e talvez mais importante ainda através de estudos imunohistoquimicos de amostras recolhidas de manchas hemáticas do Sudário determinou a presença do Antigénio S (do sistema sanguíneo MNS)o que permite afrmar a natureza HUMANA do material hemático.

A presença de glóbulos rubros de morfologia humana, foi detectada numa pequena amostra recolhida numa área facial do Sudário com mancha sanguínea, consoante estudo mais recente do Professor Gerard Lucotte do Instituto de Antropologia Molecular de Paris

Mais recentemente o físico Professor Paolo di Lazzaro do instituto de investigação italiano E.N.E.A. efectuou novos estudos de espectrometria em manchas sanguíneas do Sudário em 2015 sendo constatada uma inflexão pelos 550 nm, o que confirmou a presença de Metahemoglobina já anteriormente detectada nos estudos S.TuR.P. de 1978.

Este cientista afirmou . «os nossos resultados de espectroscopia são uma evidência adicional que as manchas sanguíneas no Sudário contém sangue muito antigo».

Mencionamos também o facto de terem sido efectuados estudos de ADN nuclear em material proveniente de manchas sanguíneas do Sudário nos anos 90 do século passado, aspecto desenvolvido em anterior artigo-ora o ADN só existe em células nucleadas do sangue e não em simulacros artísticos com pigmentos pictóricos.

 

SEM QUALQUER DUVIDA AS MANCHAS SANGUINEAS DO SANTO SUDÁRIO SÃO DE MATERIAL HEMÁTICO HUMANO DO GRUPO SANGUINEO AB (não foi possível determinar o RH) CORRESPONDENDO A EXSUDADOS DE COÁGULOS SOBRE AS LESÕS DA SUPERFICIE CORPORAL e que foram transpostos para o tecido por um mecanismo de contacto.

O investigador Dr. Gilbert Lavoie médico internista intensivista americano, determinou experimentalmente o tempo que teria de decorrer após a paragem circulatória (morte) para obtenção de transposição para tecido de linho de exsudados de coágulos com aspecto semelhante aos do Sudário, em condições presumivelmente idênticas às do envolvimento do Homem do Sudário (Jesus Cristo) por um lençol funerário no sepulcro.

 Foi assumido que um ambiente húmido permitiria a humidificação dos coágulos, o que permitiria a sua transposição para o tecido num intervalo até cerca de 2 horas e meia.

Curiosamente, nessas condições as manchas hemáticas deveriam ter contornos mal definidos , o que não acontece nas manchas hemáticas do Santo Sudário, aspecto muito curioso referido por vários investigadores nomeadamente o patologista forense Professor Baima Bollone-adiante aludiremos a este facto.

 

Questão: Será possível que um falsário tenha pintado com sangue humano as manchas sanguíneas do Santo Sudário?

Vamo-nos abstrair do facto de que até à presente data não se sabe cientificamente o que produziu a imagem corporal no Sudário e também NÃO FOI POSSIVEL REPRODUZIR UMA IMAGEM COM AS MESMAS CARACTERISTICAS MACROSCÓPICAS FISICAS E QUIMICAS.

Efectivamente há múltiplas manchas sanguíneas correspondendo a  variados tipos de lesões, nomeadamente perfurações arteriais, venosas, capilares, contusões hemorrágicas, sangue pre-mortem e post mortem, o que inviabiliza tal acção em termos artísticos.

Além disso a maioria das manchas sanguíneas tem à sua volta um halo de soro que só se torna aparente nas fotografias de fluorescência de Ultra-Violetas soro esse extrudido pela retracção fisiológica do coágulo-aspecto que não se verificaria se o sangue fosse pura e simplesmente pintado e também teria de ser sangue com elevado teor de bilirrubina não conjugada.

Não menos importante o seguinte facto: os investigadores Professores John Heller e Alan Adler atrás citados aplicaram enzimas proteoliticas (tripsina, quimotripsina, carboxipeptidase e lisozima) em fibras de manchas sanguíneas suprajacentes a áreas de imagem, e o resultado foi que as fibras do linho assim tratadas, não apresentavam a coloração das fibras da imagem adjacente-ora este achado tem como corolário o seguinte- AS MANCHAS SANGUINEAS PRODUZIRAM-SE PRIMEIRO NO TECIDO E SÓ DEPOIS SE FORMOU A IMAGEM CORPORAL, e as manchas sanguíneas como que constituíram uma barreira à acção do que quer que tenha causado as transformações químicas com produção de cor nas fibras-imagem.

Como é que o suposto falsário iria pintar as manchas sanguíneas lesionais sem ter uma imagem corporal como referência?

Este é pois um obstáculo incontornável de todas as tentativas de «reprodução humana» do Sudário de Turim, mesmo a tentativa mais perfeita até à presente data-referimos o «Sudário de Garlaschelli»- não conseguiu contornar este aspecto.

Para concluir, os investigadores da equipe S.TuR.P Jean Lorre e Donald Lynn aplicaram a técnica de análise de pinturas FFT (iniciais de Fast Fourier Transform) no Sudário de Turim na imagem corporal e manchas sanguíneas e pelo ´padrão isotrópico» obtido concluíram pela AUSENCIA DE PINCELADAS»

NÃO UM FALSÁRIO NUNCA PODERIA TER PINTADO COMSANGUE AS MANCHAS SANGUINEAS DO SUDÁRIO

 

Questão: As manchas sanguíneas do Santo Sudário, tem uma coloração demasiado avermelhada, atendendo à alegada antiguidade das mesmas-como explicar tal facto?

Realmente a maioria dos investigadores admite que a tonalidade das manchas sanguíneas do Sudário tem uma tonalidade estranhamente avermelhada, pois sabe-se que com o passar do tempo o sangue vai adquirindo uma tonalidade acastanhada com progressivo escurecimento pela oxidação do ferro da hemoglobina ligado ao grupo heme, com produção de metahemoglobina.

Foram propostas várias teorias explicativas, nomeadamente acção da saponária officinalis (produto vegetal utilizado na preparação do tecido de linho na antiguidade),com acção hemolítica, interacção da metahemoglobina com elevados níveis de bilirrubina, potencial adição humana de pigmentos pictóricos nas manchas para realçar a cor (teoria recentemente descartada pelo físico italiano Professor Giulio Fanti) presença de carboxihemoglobina, acção de radiação ultravioleta sobre a bilirrubina.

Por curiosidade referimos uma hipótese meramente especulativa, formulada pelo Dr. Kelly Kearse, eminente estudioso do Sudário:

Sabendo que há plantas que contem o composto bilirrubina quimicamente idêntico à humana e que simultaneamente podem proporcionar um pigmento laranja-avermelhado, ele ESPECULA que um artista para realçar a cor, poderia ter utilizado o pigmento pictórico proveniente dessa planta e sem o saber ter introduzido um incremento de bilirrubina nas manchas sanguíneas.

A planta na qual foi encontrada bilirrubina idêntica à humana é a «Strelitzia Nicolai» conhecida como a «Ave Branca Gigante do Paraiso» e é originária da Africa do Sul, Moçambique e Botswana.

Lògicamente esta hipótese é absurda pois essa região do continente africano só foi conhecida em finais do século XV com as viagens dos navegadores portugueses, (recordamos que o Sudário foi mostrado na Europa em 1356) e para além disso sabemos que o método FFT (Fast Fourier Tranasform) descartou a presença de pinceladas no Sudário- NÃO, NÃO FOI APLICADA QUALQUER PINTURA COM PIGMENTO VEGETAL NAS MANCHAS HEMÁTICAS DO SUDÁRIO

 

 

Até à presente data NÃO EXISTE UMA EXPLICAÇÃO PLAUSIVEL todavia a que experimentalmente se aproxima mais dos achados no Sudário é referente aos estudos da equipe do Professor Paolo di Lazzaro sobre os efeitos da radiação Ultra Violeta em sangue com elevado teor de bilirrubina tendo sido obtida coloração avermelhada e que perdurou ao longo de anos.

 

 

 

DESCRIÇÃO E  SIGNIFICADO DAS VÁRIAS MANCHAS HEMÁTICAS NO SANTO SUDÁRIO

 

Depois de termos seguramente concluído que as manchas hemáticas não são uma elaboração artística e são sim material hemático correspondente a exsudados de coágulos, iremos então abordar os diferentes tipos de manchas observáveis

 

Descrição: C:\Users\Antero\Pictures\FaceDurantePos&EnrieNeg210529SN.png


Fig. 4- Face positivo(esquerda) e negativo (direita)fotográficos, aparentes diversas imagens lesionais nomeadamente  de lesões perfurantes.

 

Lesões perfurantes na cabeça

Na região da cabeça é possível definir múltiplas lesões perfurantes de estruturas arteriais, venosas e capilares, produzindo trajectos perfeitamente aparentes bem como lesões mais do tipo circular/oval e o famoso épsilon ou 3 invertido, sensivelmente a meio da testa.

O patologista forense Dr. Sebastiano Rodante estima em cerca de 50 (incluindo regiões laterais, posterior da cabeça e nuca) o numero de perfurações produzidas por um objecto de tortura correspondendo a um capacete de espinhos que perfuraram o couro cabeludo atingindo o craneo e lesionando à direita o ramo frontal da artéria temporal superficial, à esquerda a estrutura venosa homóloga, e no centro a mancha em «épsilon» resultou de perfuração da veia frontal- todas as lesões estão de acordo com a anatomia vascular da região.

No que concerne trajectos sanguíneos laterais na região do cabelo as opiniões  divergem  pois há peritos como o Dr Gilbert Lavoie que experimentalmente concluiu que elas se teriam originado a partir do contacto com a face, e quando a imagem se formou ficaram supra jacentes ao cabelo, outros afirmam que se localizam realmente no cabelo.

Importante o facto de que as marcas sanguíneas do Sudário na região posterior da cabeça/nuca , correspondem às encontradas no Pano ou Sudarium de Oviedo (consoante foi concluído por sobreposição informática de imagem e pela técnica de «Polarized Image Overlay Technique concebida pelo investigador Dr. Alan Whanger).

Recordamos que o Pano de Oviedo se encontra em Espanha desde o século VII e corresponde ao «sudário» enrolado aparte, do episódio do tumulo vazio de Evangelho de S. João, e esteve colocado sobre a cabeça de Jesus após a Sua morte quando ainda se encontrava na cruz.

 

Lesões de flagelação:

Descrição: C:\Users\Antero\Pictures\scourgemarksback1ShroudScope.png


Fig 5: Região dorsal-visiveis múltiplas lesões correspondentes a flagelação com chicote romano

Em mais de 60% da superfície corporal do Homem do Sudário, particularmente na região dorsal, nádegas e região dorsal dos membros inferiores são visíveis cerca de 120 lesões com a forma sensivelmente de halteres, cerca de 3 cm de comprimento, e que nas fotografias de fluorescência de Ultra Violetas exibem um halo fluorescente à sua volta correspondente a soro.

Essas lesões correspondem a uma brutal flagelação com o chicote romano tipo «flagrum taxillatum», consoante um idêntico instrumento de tortura recuperado em achados arqueológicos na cidade romana de Herculaneum, sepultada sob a lava da erupção do Vesúvio em 79 A.D.

Esse chicote tinha 2 a 3 tiras de couro cujas extremidades possuíam bolas de metal (plumbatae) ou ossos para provocar mais sofrimento no condenado.

Consoante concluíram os estudos de patologia forense, o Homem do Sudário foi brutalmente chicoteado por 2 carrascos, um de cada lado sendo o da direita mais alto que o da esquerda.

Também e ainda na imagem corporal dorsal é possível visualizar a nível das omoplatas particularmente à direita imagens de abrasão cutânea consentâneas com o porte de um objecto pesado, neste caso o «patibulum» que é a porção horizontal da cruz.

 

Lesões de Crucificação:

Descrição: C:\Users\Antero\Pictures\blood trail arms.jpg


Fig 6: Sudário de Turim, imagem ventral-visível local de saída do cravo no punho esquerdo e trajectos sanguíneos nos antebraços.

 

São perfeitamente patentes lesões de crucificação com cravos sendo  aparente na imagem ventral, a nível da região dorsal do punho esquerdo o local de saída do cravo, topograficamente na região do designado espaço de Destot (espaço virtual entre os ossos do carpo semi-lunar, piramidal, grande osso e ganchoso) e 2 extrusões sanguíneas fazendo um ângulo de cerca de 15º, para além dos trajectos das escorrências  nos antebraços.

Estas lesões são perfeitamente compatíveis com escorrências sanguíneas na posição de crucificação, ou seja com os membros superiores fazendo um ângulo de cerca de 65º com  vertical, pois o seu trajecto foi determinado por acção da gravidade.

Curiosamente, os trajectos que extrudem do punho esquerdo correspondem segundo o Professor Pierre Barbet às 2 posições que o crucificado tinha na cruz.

Assim o crucificado tinha extrema dificuldade em expirar e para o fazer passava de uma posição baixa para outra mais elevada através de um extremo sofrimento pela força exercida no cravo que transfixiava os pés e no dos punhos, e assim se teriam produzidos esses dois trajectos divergentes,

A nível dos pés as imagens lesionais são pouco claras na imagem corporal ventral, enquanto  que na dorsal a impressão plantar do pé direito é um misto de imagem corporal e extrusões sanguíneas pre e post mortem, definindo-se o local de transfixiação do pé na região do 2º espaço intermetatarsiano.

De referir que apenas é visível a imagem da porção posterior do pé esquerdo, o qual foi colocado sobre o dorso do pé direito tendo o carrasco transfixiado os 2 pés de uma assentada com um único cravo.- esta posição foi mantida pelo rigor mortis (rigidez cadavérica post morte) após a remoção da cruz.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ferida da Lança:

 

Descrição: C:\Users\Antero\Pictures\spear wound.jpg


Fig.7: Ferida da lança no hemitorax direito

 

Na região do hemitorax direito é possível visualizar uma extensa mancha hemática com cerca de 16 cm de comprimente e  5 cm na sua maior largura, a nível superior, com zonas mais claras correspondendo a um fluido de derrame cavitário, e que também fluoresce à radiação ultra-violeta.

Na região superior, correspondente à zona antero-lateral do 5º espaço intercostal,  os patologistas forenses definiram uma zona sensivelmente ovalar com cerca de 4X1 centimetros   correspondente ao local de perfuração do hemitorax direito sendo as dimensão compatível com as lanças romanas.

Efectivamente nesse local , com uma angulação ascendente de cerca de 20º e após um percurso de 8-10 centimetros, após perfurar as pleuras e o pulmão, a lança atinge a auricula direita(cavidade cardíaca), a qual se encontra repleta de sangue após a morte.

Assim se explica a presença de sangue e de um fluido mais claro de derrame pericardico ou pleural, devido às brutais sevicias traumáticas sofridas pelo Homem do Sudário.

Deste modo, ciência médico-forense dá uma explicação para a passagem do capitulo XIX do Evangelho de S. João onde está escrito que o soldado da guarnição vendo que Jesus já estava morto, não Lhe quebrou as pernas mas perfurou-Lhe o lado com uma lança donde brotou sangue (proveniente da auricula direita) e «água» (o fluido claro de derame pericardico ou pleural)

Na imagem corporal dorsal existem manchas sanguíneas também extensas, com aspecto mais linear-o chamado cinto de sangue (Blood Belt) resultante do refluxo de sangue proveniente da veia cava inferior,  através da auricula direita e do trajecto perfurante no tórax.

 

 

                                                          DISCUSSÃO E  CONCLUSÃO

De tudo o que foi exposto podemos seguramente assumir que as manchas sanguíneas presentes no Sudário, nunca poderão corresponder a uma qualquer elaboração artística.

Elas resultam sim da transposição para o tecido de exsudados de coágulos,  pelo contacto corporal deste com os coágulos sanguíneos das múltiplas lesões sofridas pelo Homem do Sudário.

A nível bioquímico, há evidencia de extrema violência, pelo elevado teor de bilirrubina do soro, confirmada pelo recente achado dos estudos do Professor Giulio Fanti e colaboradores, numa fibra proveniente da zona do pé na imagem dorsal do Sudário.

Efectivamente foram encontradas nanoparticulas de creatinina envolvendo nanoparticulas de ferritina consoante achado em politraumatizados graves,

Duma maneira geral, as manchas hemáticas estão perfeitamente bem definidas com rebordos nítidos, e quando observadas ao microscópio localmente, tem os rebordos elevados e depressão central- este facto permite retirar duas conclusões, a primeira que o corpo não permaneceu mais de 30 horas envolto no lençol, caso contrário a fibrinólise (mecanismo fisiológico de dissolução do coágulo  )impediria essa boa definição.

A segunda ilação ainda mais mais importante-NÃO HÁ EXPLICAÇÃO COMO O CORPO POSSA TER SIDO REMOVIDO DO LENÇOL.

As manchas sanguineas do Santo Sudário permitem do ponto de vista médico-forense  caracterizar o tipo de lesões , inferir o objecto ou objectos agressores e mesmo sequenciar os eventos lesionais que levaram à morte o Homem do Sudário, e também inferir o imenso sofrimento que lhe foi infligido.

 

As manchas sanguíneas para além de serem uma narrativa escrita a sangue dos sofrimentos que Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu na Sua Paixão, são mais um argumento que corrobora o episódio do Tumulo Vazio, e para acreditarmos que a Ressurreição foi um evento físico que aconteceu naquele frio túmulo há cerca de 2000 anos.

Para além disso, os Cristãos que em cada celebração eucarística  se ajoelham em sinal de devoção e respeito, na consagração do vinho como sangue do Redentor, poderão contemplar sim na sua materialidade no Santo Sudário, o autêntico Sangue de Cristo plasmado naquele sagrado lençol que envolveu o Seu Corpo, e que é a testemunha da Sua Ressurreição

 

 

Nota: não sendo este artigo um artigo científico na devida acepção, não referenciamos nos locais do texto os artigos científicos que lhe serviram de suporte.

 

BIBLIOGRAFIA:

Livros:

A Paixão de Cristo segundo o Cirurgião-Dr.Pierre Barbet Edições Loyola, S. Paulo 1980

Unlocking the Secrets of the Shroud-A Forensic and Scriptural Study of the Shroud of Turin-Dr. Gilbert R. Lavoie, M.D. , dog ear publishers Indianapolis 2015

 

Artigos científicos:

 

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2-Adler, Alan D.Selzer, Russell, De Blaze, Frank: Further Spectroscopic Investigations of Samples of the Shroud of Turin , Proceedings of the 1988 Dallas Shroud Symposium Michael Minor ed. Dallas 2000 in «The Orphaned Manuscript» Effata Editrice pp. 93-102

3-Bollone, Pierluigi Baima: The Forensic Characteristics of the Blood Marks The Turin Shroud past. Present and Future Effata Editrice pp. 209-218

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