PARTICULAS MINERAIS
DO SUDÁRIO- ABORDAGEM DE SÍNTESE
Fevereiro 2023
Antero de Frias Moreira*
*Médico-Especialista de Medicina Física e de Reabilitação:
Membro executivo do Centro Português de Sindonologia
Resumo: Após apresentação da síntese dos
aspectos principais dos artigos científicos sobre o estudo de partículas
minerais presentes no Sudário, conclui-se que o mesmo apresenta
indiscutivelmente partículas de minerais oriundos da Palestina, transferidos
para o tecido por contacto com regiões anatómicas do Homem do Sudário, e a
partir do meio ambiente.
Estes estudos contribuem significativamente para descartar a
hipótese da teoria de elaboração medieval europeia do Sudário, e corroboram
aspectos da Paixão de Cristo, segundo os Evangelhos.
Palavras-chave: Sudário, partículas minerais
Abstract: After the presentation of a
synthesis of the main aspects of scientific papers on the study of mineral
particles on the Shroud it is concluded
that the Shroud has undoubtedly mineral particles from Palestine that were
transfered by contact with anatomical body areas of the Man of the Shroud and
from the environment.
Those studies provide an important contribution to discard
the Shroud’s european medieval fakery theory, and support the Gospel’s narrative
of aspects of the Passion of Christ
Key- words: Shroud, mineral particles
Introdução
Em consonância com o titulo, admitimos que é um tema algo árido,
eventualmente não muito motivante para o público em geral, mas como veremos,
com muita importância no estabelecimento do percurso histórico do Sudário,
nomeadamente quando integrado com outros elementos, nomeadamente os estudos
palinológicos, e os mais recentes estudos de ADN de cloroplastos de plantas e
de ADN mitocondrial humano patentes no tecido do Sudário.
Aquando da famosa investigação StuRP ( acrónimo de Shroud of
Turin Research Project) de 1978 foram realizados por uma equipe multidisciplinar
vários estudos «in loco» do Sudário de Turim, entre os quais de Espectrometria,
a cargo do casal de investigadores Roger e Marty Gilbert.
Estes investigadores constataram que a zona correspondente à imagem das
impressões plantares (na imagem dorsal) apresentava um padrão diferente do
resto do Sudário.
Outro elemento da equipe, o físico óptico Sam Pellicori
examinou a área de interesse com um microscópio com ampliação 500X e concluiu
que isso se devia à presença de poeiras correspondentes a partículas minerais
amareladas, transpostas para o tecido pelos pés de alguém que caminhou
descalço.
Foi também determinado que a nível do joelho esquerdo e do
nariz também havia «contaminação» com poeiras.
Este foi pois o preludio para os estudos subsequentes dos
quais iremos resumir o essencial
Estudos de Particulas
Minerais
1)Estudos de Eugenia Nitowski,e Joseph Kohlbeck (1986)
O químico professor Rogers da equipe STuRP entregou material
recolhido do Sudário (região da impressão plantar) ao cristalógrafo Dr. Joseph
Kohlbek do Hercules Aerospace Division, o qual caracterizou partículas
aderentes a fibras do linho como carbonato de cálcio (calcário).
Essa amostra tinha uma elevada concentração de carbonato de
cálcio e também evidenciava pequenas quantidades de ferro e estrôncio.
Entretanto a arqueóloga Drª Eugenia Nitowski trouxe de Jerusalém
amostras de calcário dos antigos túmulos escavados na rocha, para estudo
comparativo de partículas.
Segundo Kohlbeck as partículas da amostra do Sudário e as do
calcário dos antigos túmulos, são de mineral Travertino-Aragonite diferindo do
ponto de vista de estrutura cristalina, da variedade mais comum calcite.
Esta cristaliza duma forma «romboédrica, enquanto a aragonite cristaliza na forma
«ortorrômbica».
A Aragonite forma-se em condições mais restritas que a
calcite, e além disso as ditas amostras do calcário de Jerusalém também
continham pequenas quantidades de ferro e estrôncio mas não chumbo.
Estudos adicionais pelo Dr. Ricardo Levi-Setti do Enrico
Fermi Institute da Universidade de Chicago, comparando as amostras do calcário
dos túmulos de Jerusalém e o calcário da amostra do Sudário, por «High Resolution
Scanning Ion Microprobe» (que compreende a espectroscopia Raman), obteve
gráficos cujos padrões são essencialmente idênticos «excepto para ínfimas
porções de linho que não puderam ser separadas do cálcio do Sudário e causaram
uma ligeira variação orgânica».
Kohlbeck refere que « tais achados (por si só) não provam que
o Sudário veio de Jerusalém mas tal origem seria uma muito razoável explicação
para a presença de Aragonite.
Por outro lado aqueles que afirmam que o Sudário é uma fraude
do século XIV devem explicar como a Aragonite foi lá parar».
Além disso, a composição da referida amostra era diferente da
de oito amostras de calcáreos recolhidas em vários locais de Israel.
2) Estudos do professor Gerard Lucote(2012)
Este cientista do Instituto de Antropologia Molecular de
Paris, recebeu em 2005 do Professor Giovanni Riggi di Numana (que integrou a
equipe StuRP em 1978) uma pequena amostra de forma triangular medindo 1,36X0.614 milimetros recolhida de uma área sanguínea
da face do Sudário muito próxima do nariz.
Nela existem múltiplas partículas de natureza inorgânica e
orgânica nomeadamente poléns e glóbulos
vermelhos (aspectos fora do âmbito deste
estudo)
Através de um estudo exaustivo de microscopia nomeadamente de luz
polarizada,, microscopia de scanning , microfluorescência e EDX (energy
dispersive X.Ray) pode caracterizar inúmeras partículas minerais aderentes à
fita adesiva da amostra, as quais constituem 82% das partículas.
Entre outras detectou partículas de carbonato de
cálcio/calcário, partículas de sílica , argilas ( nomeadamente illiite e
montmorilonite que é uma variedade de smectite) e outras, sendo que a proporção
das mesmas e a presença de gesso e óxido
de ferro «indica uma natureza de solo correspondendo a climas desérticos ou
semi-desérticos».
Além disso encontrou alguns minerais argilosos ( misturas de montmorilonites/iliites
constituídos por partículas ricas em potássio com elevado conteúdo em cálcio, contendo
inclusões de ferro e titânio).
Esse tipo de minerais
foram utilizados em pigmentos para colorir um fóssil do período
Paleolítico Médio encontrado no local de «Es-skhul no Monte Carmelo em Israel.
Este cientista afirma «Portanto estas misturas de minerais
argilosos constituem uma verdadeira assinatura geológica desta região geográfica».
3) Análise de micropartículas aspiradas do Sudário de
Turim (2015)
As investigadoras Drªs Irene Calliari e Caterina Canovarro da
Universidade italiana de Pádua, estudaram partículas provenientes de materiais aspirados
da parte posterior do Sudário pelo já referido Professor Riggi di Numana em
1978 e 1988 (aquando da remoção da famosa amostra para teste radiocarbono).
Esse material estava devidamente referenciado em termos de
localização no Sudário, e guardado em recipientes específicos.
Foram estudadas fibras vegetais, polens, esporos , partículas
orgânicas biológicas e minerais, sendo apenas estas ultimas objecto da nossa atenção.
Foram utilizados sofisticados métodos laboratoriais
nomeadamente metalização de partículas com ouro, microscopia óptica,
microscopia de luz polarizada e EDX (energy dispersive X-Ray).
Detectaram-se partículas minerais de tonalidade avermelhada
(contém ferro) que chamaram a atenção pois não são comuns no solo do norte de
Itália, onde o Sudário se encontra há seculos.
Tendo sido constatado que o solo de Jerusalém contem muitas
partículas semelhantes, foi efectuado um estudo comparativo entre esse tipo de
partículas, neste caso com amostra de solo do Monte Sião.
O padrão obtido nos gráficos de EDX é francamente semelhante,
e segundo as investigadoras «embora análises mais detalhadas sejam necessárias para
uma completa identificação, essas partículas são muito semelhantes às das
argilas de Jerusalém, (e de outras áreas mediterrânicas influenciadas pelos
ventos do deserto do Sahara).Parecem pertencer à família das Iliites-Smectites, também contendo gesso».
4) Estudos de partículas minerais no Pano de Oviedo pela
equipe EDICES do Centro Espanhol de Sindonologia
O Pano ou Sudarium de Oviedo é uma peça de tecido de linho
medindo cerca de 84X 53 centímetros com manchas sanguíneas e de fluido de edema
pulmonar (não apresenta imagem) que se encontra na Península Ibérica desde o
inicio do século VII, actualmente na Catedral de S. Salvador em Oviedo-Espanha,
e que a tradição, estudos históricos e científicos permitem concluir que se
trate do pano que envolveu a cabeça de Jesus Cristo morto na cruz, e
corresponde ao «sudário enrolado aparte» do capitulo XX do evangelho de S.
João.
A par do Sudário de Turim, são pois duas relíquias com
estreita relação com Jesus Cristo, havendo coincidência morfológica e
topográfica relativamente a manchas sanguíneas nelas presentes.
Assim sendo foi realizado um estudo do Pano de Oviedo em
múltiplos pontos (áreas «limpas» e zonas de manchas sanguíneas), recorrendo ao
método Fluorescência de RX no sentido de pesquisar presença de elementos com número
atómico superior a 16, bem como sua concentração e verificar a esse nível
relação entre as duas relíquias.
Foram também utilizados controles, nomeadamente um tecido com
diferentes concentrações de carbonato de cálcio (pó de travertino-aragonite).
Desse estudo realçamos que foi concluído que a concentração
de cálcio era superior nas áreas de manchas sanguíneas, por aderência das
partículas minerais aos fluidos, particularmente na zona da mancha
correspondente à extremidade do nariz, tal como acontecia no Sudário de Turim.
Foi efectuada comparação entre a relação Calcio/Estrôncio em
partículas de calcário do solo do Calvário (Jerusalém) e na zona referida do nariz,
sendo os valores próximos, portanto as poeiras corresponderão a solo de
Jerusalém tal como no caso do Sudário.
DISCUSSÃO
Temos de concordar com o céptico Dr. Hugh Farey, que
efectivamente os resultados publicados pelos elementos da equipe STuRP no que
concerne aos estudos de Fluorescência de RX e de Espectrometria são
dificilmente conciliáveis com a presença de poeiras nas áreas mencionadas,
todavia o físico polaco Jan Jaworski analisando em pormenor as concentrações de
cálcio e estrôncio em vários «spots» afirma que embora do ponto de vista da
Fluorescência de RX, a concentração de cálcio seja sensivelmente uniforme no
tecido do Sudário, há efectivamente uma maior concentração na mensuração na área
dos pés (na imagem dorsa)l, o que foi explicado ulteriormente pela
caracterização das ditas partículas minerais como carbonato de cálcio sob a
forma de travertino-aragonite.
Mesmo esse céptico não contradiz a afirmação do físico óptico
Sam Pellicori da equipe STurP quando ele afirmou «a observação visual da área
do calcanhar com uma ampliação de 500X revela a presença de partículas
amareladas muito pequenas sugerindo poeira, e a área do nariz pode conter também
poeiras ou material cutâneo residual».
O investigador John Jackson também da equipe STuRP corrobora
esse achado afirmando «na impressão plantar dorsal o exame de 1978 descobriu
uma abundância de poeira microscópica atípica do resto da imagem .Isto com certeza é consistente com o conceito da
transferência de partículas dos pés descalços de um homem, para o Sudário».
Já no que respeita aos gráficos do Professor Levi-Setti
referentes ao estudo das partículas dos pés esse céptico afirma que foram
«adaptados» pela arqueóloga Eugénia Nitowski e que são «quantitativamente» diferentes.
Não nos parece que isso corresponda à realidade, e para além
disso o Professor Levi-Setti concluiu, recordamos, que os padrões dos gráficos
são essencialmente idênticos excepto para ínfimas porções de linho que não
puderam ser separadas do cálcio do Sudário e causaram uma ligeira variação
orgânica.
No que respeita à presença de poeiras no joelho esquerdo
efectivamente não haverão amostras recolhidas dessa zona, mas esse achado foi
afirmado por vários investigadores que contactaram directamente com o Sudário.
Processo de
transferência das Poeiras Minerais
O mecanismo de passagem das poeiras minerais foi
essencialmente por dois processos:
Contacto com regiões anatómicas corporais como planta de pés
descalços, nariz e joelho esquerdo, bem como áreas da face onde teriam aderido
a material hemático ainda liquefeito (como foi o caso no Pano de Oviedo).
No que respeita à presença de poeiras minerais na região do
nariz e joelho, os estudos forenses permitem concluir que o Homem do Sudário
sofreu queda com contacto no solo dessas áreas anatómicas.
No que concerne às poeiras plantares foi já dito que passaram
para o tecido do Sudário por transferência a partir da planta dos pés de alguém
que caminhou descalço nesses solos.
As poeiras minerais também terão sido transferidas para o
tecido do Sudário por contacto directo com superfícies, nomeadamente tumulares
ou solo, ou mesmo por acção de ventos.
Comprovação da presença
de partículas minerais da região da Palestina
Vários investigadores, em diferentes épocas e estudando
amostras colhidas em várias zonas concluíram que o Sudário apresenta múltiplas
partículas minerais da região da Palestina, nomeadamente da zona dos antigos
túmulos de Jerusalém da época de Cristo.
Os estudos do Professor Lucotte apoiam as conclusões da
equipe EDICES no Pano de Oviedo, pois foram efectuados numa amostra próxima do
nariz, não obstante a equipe espanhola não caracterizou o tipo de partículas de
carbonato de cálcio / calcário, verificando-se a mesma situação relativa às partículas
minerais na região nasal e joelho esquerdo do Sudário de Turim.
Contribuição para a
autenticidade do Sudário:
O facto de que as partículas minerais nas regiões anatómicas
referidas serem apenas tènuamente visíveis à vista desarmada, e o facto de
efectivamente serem de minerais presentes em calcáreos e argilas da Palestina,
dificulta extraordinariamente a teoria da elaboração medieval europeia do
Sudário por um alegado falsário.
Além disso deixamos à apreciação dos leitores esta absurda
hipótese:
No Pano de Oviedo,
apenas após estudos de medicina forense foi determinada a zona correspondente
ao nariz, em finais do século passado.
Essa zona apresenta como vimos partículas minerais de
carbonato de cálcio, em correspondência com a área homóloga do Sudário.
Assim sendo, o alegado falsário do seculo XIV teria de ter
conhecimento do Pano de Oviedo, bem guardado num relicário da Catedral, e duma
forma furtiva!!! aplicar exactamente numa área restrita poeiras minerais de
solo da Palestina, por sorte!! exactamente numa localização que cerca de 600
anos depois se concluiria corresponder à área do nariz……!!!!
Estes estudos, embora por si só não comprovem a autenticidade
do Sudário, mas sem dúvida são um importante elemento que concorre nesse
sentido, e mais um aspecto para cientificamente descartar a teoria tão
propalada da elaboração medieval do Sudário.
Para além disso são mais um dado que corrobora aspectos dos
relatos evangélicos da Paixão de Cristo.
CONCLUSÃO
Os estudos de partículas minerais presentes no Sudário de
Turim, permitem concluir que essa peça de tecido esteve na Palestina,
nomeadamente na região do Calvário e dos antigos túmulos de Jerusalém, e são mais um dado para descartar as teorias
de elaboração medieval europeia do Sudário, e suportam os relatos evangélicos
de que Jesus caminhou( descalço) para o local do derradeiro suplicio, tendo
sofrido queda(s) no percurso, consoante lesões evidenciadas pela patologia
forense a nível do joelho esquerdo e do nariz, e após a Sua morte foi sepultado
num túmulo adquirido por José de Arimatheia.
Nota: Não sendo este artigo, um artigo científico na devida
acepção do termo, não são referenciados no texto as referencias bibliográficas.
Não obstante elas são mencionadas nas Referências
Bibliográficas e sempre que disponivel com link para acesso online
Referências Bibliográficas:
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