ABORDAGEM CRITICA DAS CONTROVÉRSIAS SOBRE OS PÓLENES DO SUDÁRIO DE TURIM
Investigação S.T.U.R.P 1978: O Dr. Max Frei recolhe uma amostra da superficie do Sudário sob o olhar atento do Professor Raymond Rogers |
Introdução:
Os Estudos
Relativamente à autenticidade do Santo Sudário de Turim, sabemos que não é estabelecida por um ou outro aspecto pontual mas sim pela reflexão sobre multiplos factos que apontem nesse sentido.
Habitualmente as conferências e palestras sobre o Santo Sudário abordam o tema dos estudos palinológicos (sobre os pólenes) do Dr. Max Frei quase de uma forma dogmática para justificar o percurso geográfico da sagrada relíquia.
Ora precisamente estes estudos tem estado ultimamente sobre o fogo dos cépticos no sentido de os descredibilizar.
Para os menos familiarizados neste assunto, a Palinologia Forense aplica conhecimentos de botânica na identificação dos pólenes em materiais nomeadamente tecidos, peças de vestuário, calçado, utensílios e outros materiais para determinar possíveis localizações dos mesmos em determinada época do ano.
Por exemplo se no vestuário de um suspeito de crime foram encontrados pólenes de uma planta que apenas existe numa área geográfica restrita e cuja floração ocorre em determinado período, isso será uma prova que esse individuo esteve nesse local num determinado intervalo temporal.
O Dr.. Max Frei Sulzer, director do Laboratório de Policia Cientifica de Zurich, perito em botânica e Professor na Universidade de Zurich, aplicou os seus conhecimentos na caracterização dos pólenes recolhidos da superficie do Sudário de Turim, em amostras por ele obtidas em 1973 e 1978 aquando da investigação multicientífica S.T.U.R.P.
Caracterizou a nivel «espécie» 58 tipos de pólenes das quais uma parte considerável não existem na Europa mas sim no Médio Oriente (33 espécies) incluindo na Palestina(13 espécies sendo mesmo caracteristicas da zona do Negev e do Mar Morto) e na bacia mediterrânica e Ásia Menor na zona de Constantinopla (actual Istanbul-Turquia).
A presença da espécie «Zygophyllum Dumosum» que apenas existe na zona de Jerusalém, Jordânia e Sinai seria uma prova inequívoca que o Sudário teria estado nessa área geográfica num periodo da sua existência.
Anos mais tarde, já depois da morte prematura do Dr. Max Frei em 1983, o Dr. Paul Maloney, arqueólogo americano obteve da viuva Frau Gertrud Frei-Sulzer a maior parte da colecção das amostras, assim como um manuscrito referente à investigação de 1978, a qual não foi concluida pelo seu falecimento.
Em 1983 o referido arqueólogo submeteu 22 fotografias dos pólenes do estudo do Dr. Max Frei ao parecer do Dr. Aharon Horowitz, palinólogo do Instituto de Arqueologia da Universidade de Telaviv, o qual considerou a identificação muito precisa e no global apreciou o trabalho do Dr. Max Frei.
Em 23 de Julho de 1988 foi efectuada uma observação cientifica publica de amostras do Dr. Max Frei, numa reunião que entre outros, teve a presença do Dr.Benjamin Stone , director do departamento de botânica da Academia de Ciências Naturais de Filadélfia, do microscopista Dr Walter McCrone e quimico Dr. Alan Adler. e do botânico Professor Orville Dahl.
Nessa observação foram também encontrados fragmentos de flores como filamentos e antheras, o que levou este ultimo cientista a afirmar que foram colocadas flores sobre o Sudário, afirmação identica à do Dr. Paul Maloney.
Em 1998 o Professor Avinoam Danim, botânico da Universidade Hebraica de Jerusalém, e o palinologista Dr. Uri Baruch da Autoridade das Antiguidades de Israel, efectuaram um estudo de várias amostras da colecção do Dr. Max Frei.
De 34 tipos de pólenes apenas puderam classificar até à «espécie» 3: Gundelia Tournefortii,Ricinus Communis e Lomelosia Prolifera.
Nos restantes consideraram correcta a classificação do Dr. Max Frei até ao «género», a espécie Gundelia Tournefortii correspondia a cerca de 30% dos grãos de pólen, existindo esta planta apenas no Médio Oriente.
Concluiram que a abundante concentração de polen desta espécie resultou da colocação de inflorescências sobre o Sudário dado que a acção do vento não poderia explicar a sua presença.
Quanto à classificação de grãos de «Cistus creticus» préviamente atribuida pelo referido professor Orville Dahl não poderiam emitir opinião,(esta é uma espécie caracteristica de Israel).
Neste estudo concluiram que o Sudário esteve no Médio Oriente-Palestina, conclusão já tirada pelo Professor Danim em prévios estudos publicados
Parecia pois que o percurso histórico do Sudário de Jerusalém, Edessa e Constantinopla na Ásia Menor e Europa (França e Itália) estava perfeitamente justificado pela presença de pólenes caracteristicos dessas regiões.
As Dúvidas:
Para mencionar as principais referimos que o céptico da autenticidade do Sudário Dr. Steven Schaffersman acusou o Dr. Max Frei de fraude, alegando que o tipo de polens seriam uma «construção» para justificar o alegado percurso geográfico do Sudário, pois o Dr. Max Frei teria ele próprio colocado os pólenes nas laminas!!! reiterando a acusação pelo facto de a concentração de pólens ser muito superior às das amostras recolhidas pela equipe S.T.U.R.P.
Ainda mais questões, também partilhadas por outros cépticos tais como:
-Alegada abundante presença de espécies de polinização entomófila (por insectos), polenes esses que nunca poderiam estar no Sudário por exposição atmosférica e necessáriamente deveriam ter sido
fraudulentamente colocados nas lâminas.
-Ausência de polens de oliveira especie vegetal prevalente na região de Jerusalém, planta de polinização anemófila(pelo vento)
-Criticas de botânicos que afirmaram ser muito questionável a classificação taxonómica do Dr. Max frei até à «espécie»
- A questão da espécie Gundelia Tournefortii
Em 2001 o palinologista Dr. Thomas Litt da Universidade de Bonn observou amostras da colecção do Dr.Max Frei por solicitação do professor Danim afirmando que não poderia classificar até ao «género» muito menos «espécie» dado que havia «ceras» a cobrir os grãos de polen nas amostras.
Peremptòriamente discordou da classificação« Gundelia Tournefortii» afirmando que o polen seria de planta do género «Carduus».
Depois disto o Professor Danim concordou com a opinião do Professor Litt abandonando os estudos de pólenes mas prosseguindo a sua investigação sobre imagens de plantas e flores que afirmava visualizar no Sudário.
-Em 2012 a bióloga Drª Marzia Boi do Centro Español de Sindonologia discordou da classificação Gundelia Tournefortii atribuindo-lhe a classificação «Helichrysum» planta utilizada na elaboração de unguentos funerários, e que estaria no tecido pela unção do Corpo.
DISCUSSÃO:
O Dr. Max Frei obteve as suas amostras através de fitas adesivas, as quais eram manualmente pressionadas na superficie do Sudário, em locais que foram registados e devidamente testemunhados, nomeadamente durante a investigação S.T.U.R.P.. em 1978- existem várias fotografias, na mais conhecida o Professor Raymond Rogers observa atentamente a intervenção do Dr. Max Frei.
Segundo o Dr. Paul Maloney, a maior concentração e distribuição dos pólenes nas fitas adesivas nas lâminas de observação microscópica deve-se precisamente ao método de colheita pois enquanto a equipe S.T.U.R.P. utilizava um dispositivo mecânico de baixa pressão, o Dr. Max Frei pressionava manualmente com a unha, assim obtendo mais material aderente à fita adesiva nomeadamente o que estava no intervalo dos fios.
A acusação de fraude é pois infundada e caluniosa num cientista já falecido mas está perfeitamente de acordo com o carácter daqueles que a todo o custo pretendem descredibilizar os cientistas que estudaram o Sudário.
Os botânicos italianos Professores Scannerini e Rossana Caramiello da Universidade de Turim, afirmaram concordar com a metodologia de trabalho do Dr.Max Frei embora com alguma discordância no que se referia à «excessiva» caracterização dos grãos de pólen.
No que se refere à presença de pólenes de plantas de polinização entomófila, o Professor Orville Dahl afirmou que se deveu à colocação de flores sobre o Sudário no seu entender talvez nalgum acto liturgico.
Sabemos que os antigos ritos funerários judaicos contemplavam a colocação de flores junto ao corpo, o que terá acontecido no caso do sepultamento do Homem do Sudário.
Recordamos que o sindonólogo Dr. Alan Whanger e o Professor Avinoam Danim identificaram multiplas imagens de flores no Sudário imagens muito ténues e muito dificeis de discernir, segundo eles mais aparentes em fotografia de U.V.-é um tema controverso que não iremos desenvolver.
Relativamente à ausência de pólens de oliveira aspecto também notado pelo palinologista Dr. Uri Baruch, a botânica Drª Daria Bertolani Marchetti da Universidade de Modena, e a Drª Mariotti-Lippi, especialista em arqueobotânica da Universidade de Florença, avançaram com a seguinte explicação:
A floração da oliveira na bacia mediterrânica ocorre em finais de Maio e em Junho durante um curto período de tempo, e os seus grãos de polen são pesados e com escassas proeminências que dificultam a sua aderência.
Se como tudo indica o sepultamento do Homem do Sudário ocorreu em finais de Março/inicios de Abril, e o lençol funerário foi preservado escondido, temos uma explicação plausivel para a ausência de pólenes de oliveira no Sudário.
Quanto à questão da espécie Gundelia Tournefortii,não podemos deixar de conjecturar se botânicos familiarizados com a flora de Israel se teriam equivocado, e se a opinião do Professor Litt não se terá devido à deterioração das amostras, pois decorreram mais de vinte anos após a sua colheita, e as fitas adesivas degradam-se com o tempo, bastam alterações na hidratação dos polenes para alterar o seu aspecto e causar dificuldade na classificação.
No que concerne à recente classificação da bióloga Drª Marzia Boi, esta baseou-se não na observação directa das amostras do Dr. Max Frei, mas na observação de fotografias.
O biólogo australiano Dr. Stephen Jones avançou com uma solução de consenso,afirmando que embora o génreo «Carduus» tenha uma distribuição geográfica muito extensa, existe em Jerusalém uma espécie de Carduus Argentatus
Já abordamos a questão do alegado «excesso de carcterização» dos pólenes opinião partilhada pela Drª Mariotti-Lippi todavia esta analizando a lista de classificação do Dr. Max Frei apenas até ao género, e retirando as plantas europeias e ponderando eventuais erros de classificação, continua a ter na lista algumas plantas que existem apenas no Médio-Oriente, o que a levou a afirmar que « .. o Sudário num periodo não especificado de tempo esteve no Médio-Oriente».
Anteriormente referimos os recentes estudos de DNA de cloroplastos em material recolhido de aspirados do Sudário, num estudo genético multicêntrico em várias Universidades italianas, e coordenado pelo Professor Giulio Fanti da Universidade de Pádua.
Nesse estudo foi determinado a presença de DNA vegetal de plantas da bacia mediterrânica e Médio-Oriente.
Ainda mais recentemente, em Agosto ultimo, o Professor Gerad Lucotte do Instituto de Anthropologia Molecular de Paris publicou um estudo efectuado nos residuos de uma pequena amostra recolhida em 1978 da região do nariz da face da imagem corporal do Sudário.
Nesse estudo recorrendo a SEM e EDX (Microscopia dde scanning e energia dispersiva RX) foram encontrados 10 pólenes, dos quais 3 pertencem à espécie «Ceratonia Siliqua»,uma «Balanites Aegiptiae», a palmeira do deserto, e outro a «Cercis Siliquastrum» a árvore da Judeia.
Este cientista conclui: «estas 3 plantas tem a sua distribuição geográfica no Médio-Oriente, o que é indicativo de uma origem palestiniana do Sudário de Turim...»
CONCLUSÃO
O trabalho pioneiro do Dr. Max Frei não pode ser desvalorizado, pese embora o facto que o sacrossanto argumento das espécies de pólenes por ele determinadas estabelecer o percurso geográfico do Santo Sudário de Turim ter de ser revisto em função da opinião de outros peritos.
Assim, na nossa opinião o argumento dos pólenes continua não obstante SÓLIDO provando que o Santo Sudário que desde 1578 se encontra em Turim permaneceu durante um período da sua existência no Médio-Oriente e na Palestina.
È no entanto recomendável a realização de estudos palinológicos actuais, com tecnologias de observação mais sofisticadas, em material a recolher da superficie do Sudário, no ambito de estudos alargados por métodos não destrutivos.
Quando, dependerá da boa vontade da Santa Sé.
Bibliografia:
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Danin, Avinoam and Baruch Uri Floristic indicators for the origin of the Shroud of Turin 1998 Turin Symposium https://www.shroud.com/pdfs/daninx.pdf
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https://shroudofturin.files.wordpress.com/2014/09/atsi-2014-uncovering-the-sources-of-dna-of-the-turin-shroud.pdf
Farey, Hugh, Problems with pollen British Society for the Turin Shroud newsletter nº 79 June 2014
https://www.shroud.com/pdfs/n79part8.pdf
Jones, Stephen Did Max frei misidentify Carduus Argentatus Shroud Pollen as Gundelia Tournefortii? in The Shroud of Turin wednesday november 26 2008 http://theshroudofturin.blogspot.pt/2008_11_01_archive.html
Lucotte, Gerard Exploration of the Face of the Turin Shroud. Pollens studied by SEM analysis Scientific Research vol. 3 number 4 October 2015 http://www.scirp.org/journal/PaperInformation.aspx?PaperID=60135
Maloney, Paul C. Science Archaeology and the Shroud of Turin in Approfondaniento Sindone; Centro Studi Medievali 1998 http://llanoestacado.org/freeinquiry//skeptic/shroud/as/maloney.html
Marinelli, Emanuella The question of the pollen grains on the Shroud of Turin and the Sudarium of Oviedo 2014 https://www.shroud.com/pdfs/marinelli2veng.pdf
Shaffersman Stephen D. Unraveling the Shroud of Turin Approfondamiento Sindone Year 1 vol 2 1998 http://llanoestacado.org/freeinquiry//skeptic/shroud/as/schafersman.html
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