JESUS CRISTO MORREU NA
CRUZ?-Uma reflexão crítica
Antero de Frias Moreira*
*Medico-Membro executivo do Centro Português de Sindonologia
Imagem do Cristo Sindónico (baseada nos dados de imagem do
Santo Sudário de Turim-escultura científica do Professor Juan Miñarro)
A pergunta titulo deste artigo, à partida parece ter uma
resposta lógica e unívoca, todavia hoje mesmo(29/08/2021) casualmente
visualizei um programa do Canal História intitulado «Crimes na Antiguidade»,
sem duvida interessante, mas que me leva a partilhar convosco a minha reflexão
sobre a questão em titulo deste post.
Efectivamente depois de uma instructiva dissertação forense
sobre achados arqueológicos de um assassinato na pré-história, foi abordada a
crucificação de Jesus Cristo, precedida do contexto sócio-político da época.
Se o enquadramento que precedeu o evento da crucificação até
se pode considerar correcto, pois está de acordo com as narrativas dos
Evangelhos e outras fontes nomeadamente obras que abordam o Jesus histórico,
quando a crucificação, morte e ressurreição de Cristo é abordada, é dada a
entender a forte possibilidade de explicações alternativas ao que é
habitualmente assumido como factos pela religião cristã.
Assim, depois de ser afirmado que durante muito tempo a
Ressurreição de Cristo ser considerada como factual e corporal, o Iluminismo
teria avançado com uma explicação mais racional-CRISTO NÃO TERIA MORRIDO NA
CRUZ, MAS SIM FICADO INCONSCIENTE,( a Sua «morte aparente» teria sido muito
precoce..) REANIMANDO-SE NO TÚMULO, mais ainda refere que a ferida da lança até
poderia ter tido um efeito terapêutico, pois como era provável que Cristo tivesse
um derrame pleural hemático (com sangue) assim teria sido drenado!!!! – desta forma seriam explicadas as «aparições»
do Cristo« ressuscitado» aos discípulos, e até porque no dizer do programa,
nunca se soube bem o que aconteceu depois com Cristo.
Òbviamente, isto levanta uma questão que além de poder
confundir os espectadores (crentes) é um ataque ao pilar fundamental do
Cristianismo que é precisamente a crença na Ressurreição (física/corporal) de
Nosso Senhor Jesus Cristo,
S. Paulo na sua carta aos Coríntios é bem explícito: «….Mas
se Cristo não ressuscitou é vã a nossa pregação e vã é também a vossa fé» (1Cor
15) e «….apareceu a Cefas e a seguir aos Doze. Em seguida apareceu a mais de
quinhentos irmãos de uma só vez, a maior parte dos quais ainda vive…» (1Cor
15).
Então o que pensar?
DISCUSSÃO
1-Evangelhos/ outras fontes
Aquilo que está escrito sobre os acontecimentos que
envolveram a prisão , julgamento, suplícios infligidos a Jesus, bem como a sua
crucificação e sepultamento está escrito nos Evangelhos Canónicos.
Sem dúvida, todos eles relatam que Jesus morreu na Cruz:
«..Mas Jesus com um grito forte expirou..» (Marcos 16-37), «
..Dando um forte grito, Jesus exclamou Pai nas Tuas Mãos entrego o meu
espírito. Dito isto expirou» (Lucas 23-46), «.. E Jesus clamando outra vez com
voz forte expirou» (Matheus 28-50), «..Quando tomou o vinagre, Jesus disse tudo
está consumado. E inclinando a cabeça, entregou o espírito.» ( João19-30).
S. João vai mais além e posteriormente descreve« Mas ao
chegarem a Jesus e vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas .Porém
um dos soldados trespassou-lhe o peito com uma lança e logo brotou sangue e
água» (João 20-33,34)
Tacitus
Na obra deste historiador romano (56-120 A.D.)«Anais» é
afirmado que Cristo sofreu a máxima condenação(morte por crucificação) no
reinado de Tibério por Poncio Pilatos procurador da Judeia
Flavius Josephus
Na obra deste historiador romano-judeu (37-100 A.D.)é
afirmado que Pilatos condenou Jesus à crucificação para morrer.
O programa assume implicitamente que o conteúdo da narrativa
dos Evangelhos seria fiável até à crucificação, todavia «ignora» completamente
que todos são unânimes na afirmação que Jesus morreu na cruz.
Embora os Evangelhos sejam muito omissos no que concerne aos
supliceos infligidos a Jesus Cristo, é perfeitamente admissível que com as
agressões de que foi victima, nomeadamente contusões e flagelação tenha desenvolvido
derrames pleurais hemáticos (com sangue), não obstante é perfeitamente
disparatado e absurdo atribuir um «efeito terapêutico» à perfuração do tórax
por uma lança.
Efectivamente a «Lançada» era uma prática consignada nos
costumes punitivos romanos, pois destinava-se a confirmar a morte do supliciado
pois ninguém deveria ser retirado da cruz com vida.
Assim era mais um acto brutal, e é ingénuo pensar-se que o
executor iria apenas perfurar o espaço intercostal até à pleura visceral sem
atingir o pulmão ou seja a lança só perfuraria pouco mais de um centímetro…!! -a
realidade seria bem diferente, a lança perfurava a parede toráxica, as pleuras,
o pulmão e estruturas viscerais mediastínicas como o coração, provocando no
mínimo um pneumotórax com colapso pulmonar, o que num crucificado com
insuficiência respiratória e em estado pré-agónico seria uma causa de morte
praticamente imediata.
Além disso promoveria entrada de bactérias para o tórax com
consequente infecção-esta afirmação é um absurdo em termos médicos.
Numa perspectiva médica a drenagem de um derrame pleural é
sim realizada em ambiente hospitalar , com todos os cuidados de assépsia e com
colocação de um dreno pleural evitando contaminação externa.
Põe-se ainda outro(s) problema(s) que o mentor do programa
não teve sequer a coragem de abordar, mas que deverão ser considerados:
Pelas descrições dos evangelhos, o túmulo teria sido selado
com uma pesada pedra e teria ficado uma guarnição de soldados do templo a
guardar a entrada, para ninguém ir roubar o Corpo.
Assim sendo e mesmo admitindo o ABSURDO DA REANIMAÇÃO DE
CRISTO NO SEPULCRO!!! alguém poderá admitir que depois de tantas e tão graves
lesões, Cristo teria forças ou capacidade para mover uma pesada pedra?
Obviamente que não.
Também os discípulos amedrontados com o que se tinha passado
e escondidos numa casa iriam tentar roubar o Corpo de Jesus enfrentando os
soldados???- claro que não.
Mais ainda: há várias referências nos Evangelhos às aparições
de Jesus Cristo aos seus discípulos (recordo por exemplo o episódio do
descrente S. Tomé, o Caminho de Emmaus, o episódio em que Jesus comeu peixe com
os discípulos).
Se admitimos como credíveis esses episódios nunca poderemos
conceber que os discípulos tenham ido retirar o Corpo do Sepulcro.
Mas se não acreditamos nos relatos das Aparições do Cristo
Ressuscitado e admitirmos que os discípulos roubaram o Corpo temos que
considerar o seguinte:
Todos os Apostolos, exceptuando S. João morreram de forma
violenta por propagarem os ensinamentos do Mestre, e houve uma efectiva mudança
do seu comportamento após a morte e subsequentes Aparições do Cristo
Ressuscitado, pois o medo deu lugar a um entusiasmo e coragem, a julgar pelas
atitudes subsequentes.
Mesmo o historiador E.P. Sanders admite que deve ter havido
algo de extraordinário após a morte de Cristo que promoveu tamanha mudança de
comportamento nos Apóstolos, e não resisto a transcrever « …Mais tarde, alguns discípulos
estarão dispostos a morrer por causa da sua devoção a Jesus e à sua mensagem. A
explicação para mudança está no facto de eles terem visto o Senhor ressuscitado
e de esta experiência lhes ter dado uma confiança absoluta.»
É pois inconcebível que se eles tivessem roubado o Corpo se
sacrificassem por uma mentira, obviamente o que despoletou tamanha mudança foi
o contacto real com o Cristo Ressuscitado, não uma alucinação ou criação mental,
mas sim uma presença física inteligível aos sentidos humanos.
2-Aspectos médico-forenses do Santo Sudário de Turim
Para os que como eu acreditam fundamentadamente, com base em
aspectos históricos e científicos que o Sudário de Turim é a mortalha que envolveu
o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo no sepulcro e onde estão patentes a Imagem
do Seu Corpo (ainda sem explicação científica da sua formação no tecido) e as
marcas da Paixão, esta sagrada relíquia (não um ícone), revela-nos dados
surpreendentes que confirmam os Evangelhos e preenchem as suas lacunas no que
respeita à gravidade dos supliceos infligidos a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Fig. 2-Sudário de Turim: lençol funerário com cerca de 4,36 X
1,10 metros sendo visualizável as imagens da região ventral e dorsal do corpo
de um crucificado, bem como manchas hemáticas
Os estudos de Medicina Forense por patologistas credenciados
como o Professor Pierre Barbet, Drs. Sebastiano Rodante, Judica Cordiglia,
Robert Bucklin, Frederick Zugibe, Pierluigi Baima Bollone entre outros,
permitem afirmar indiscutivelmente:
1-A imagem patente no Sudário é de um cadáver de um
crucificado de sexo masculino em estado de rigor mortis (rigidez cadavérica que
se instala cerca de 2 horas após a morte e pode perdurar por cerca de 30 horas)
2-Trajectos hemáticos (sanguíneos)de sangue arterial e venoso
e também capilar correspondendo a hemorragias ante e post mortem.
3-Lesões contundentes graves na face
4-Cerca de 60% da superfície corporal evidencia lesões
infligidas pelo terrível chicote romano «Flagrum Taxillatum»
4- Multiplas lesões perfurantes na cabeça e couro cabeludo
correspondendo a um objecto de tortura tipo capacete de espinhos
5-Feridas perfurantes no punho esquerdo e pés compatíveis com
cravos de crucificação
6-Ferida perfurante na região antero-lateral do hemitórax
direito sensivelmente no 5º espaço intercostal- experimentalmente foi
constatado que, um objecto perfurante a esse nivel depois de transpor a parede
toráxica após um percurso de cerca de 8-10 centímetros atinge a aurícula
direita do coração-trata-se da ferida da lança e a mancha adjacente exibe uma
porção avermelhada(o sangue proveniente da aurícula direita) e uma porção clara
(correspondendo afluído de derrame pleural ou pericárdico) ou seja é a
explicação médica para a descrição do sangue e água do Evangelho de S. João.
7- Os trajectos sanguíneos nos membros superiores permitem
concluir que o Homem do Sudário tinha os membros superiores a cerca de 65º com
a vertical e portanto compativeis com a posição de crucificação.
8-A morte ocorreu na cruz por múltiplas disfunções orgânicas,
estado de choque hemorrágico e asfixia
Haverá alguém que conseguisse sobreviver a tamanha
brutalidade e agonia na cruz , e depois com o tórax perfurado por uma lança que
perfurou o pulmão e atingiu o coração?
A resposta é óbvia-JESUS CRISTO MORREU NA CRUZ, mesmo aqueles
que contrariam a conclusão dos peritos que estudaram os aspectos lesionais do
Santo Sudário não apresentam quaisquer argumentos válidos em contrário.
Mas a intenção do conteúdo desse programa é na realidade
atingir o pilar fundamental do Cristianismo ou seja NEGAR a Ressurreição de
Cristo, todavia os factos considerados permitem descartar essas teorias
fantasiosas sem qualquer suporte científico, e portanto a questão da
Ressurreição de Cristo como um fenómeno transcendente terá obviamente de ser
admitida.
A RESSURREIÇÃO,esse evento único na História da
Humanidade, que aconteceu com um único Homem pela vontade de Deus, o GRANDE
MILAGRE não foi um mito elaborado, nem uma criação mental/versus alegada
vivencia «espiritual» seja lá o que isso for, como defendem alguns
pseudo-teólogos, não foi a reanimação de um cadáver como aconteceu com Lázaro
ou a filha de Jairo, mas sim a passagem
do corpo flagelado e ensanguentado do Cristo Crucificado, para a forma de
existência transfísica (não sujeita às leis naturais temporo-espaciais) do
Cristo Ressuscitado.
CONCLUSÃO
Mais uma vez os argumentos dos cépticos são absolutamente
demolidos com base nos dados dos Evangelhos mas também e sobretudo com os
estudos médico-científicos no Santo Sudário de Turim.
Jesus Cristo
indubitavelmente morreu na cruz, foi sepultado cadáver envolvido no lençol
adquirido por José de Arimatheia e esse lençol é o testemunho vivo da Sua
Paixão e o suporte material da nossa crença na Sua Ressurreição corporal
transfísica.
Referencias
Obras Literárias:
Biblia Sagrada Difusora Biblica Franciscanos-Capuchinhos
Lisboa/Fátima 2008
Moreira, Antero de Frias «Sudário de Turim, Mortalha de
Cristo ou fraude medieval?» Editora Edium 2012
Sanders E.P. « A verdadeira história de Jesus» Editorial
Notícias 2004
Verschuuren,
Gerard « A Catholic scientist champions the Shroud of Turin» Sophia Institute
Press Manchester New Hampshire 2021
Artigos
Científicos:
2 comentários:
Mas nesse documentário afirmavam que a suposta morte de Cristo ocorreu muito precocemente pois os crucificados demoravam muito tempo a morrer na cruz para prolongar o sofrimento por isso seria de supor que só tinha ficado inconsciente e depois ter-se-ia reanimado no tumulo.
Estimado leitor
Obrigado pelo seu comentário.
Escuso-me de repetir que fontes evangélicas e extra biblicas são unanimes como Cristo efectivamente morreu na cruz, todavia não se sabe ao certo o tempo que permaneceu vivo, um dos evangelhos refere que a morte teria ocorrido pelas 3 da tarde.
Seja como for, a resistencia de um crucificado na cruz é função de várias variáveis como a compleição fisica, estado de saude prévio, e sevicias sofridas pre crucificação, portanto o tempo de permanencia vivo é altamente variável.
No caso concreto de Jesus Cristo, há fortes motivos para concluir que estaria desidratado e em jejum, foi alvo de brutais sevicias como agressões contundentes, uma brutal flagelação, lesões perfurantes na cabeça,perdas sanguineas e multiplas disfunções orgânicas pelo que é lógico que a Sua resistencia fisica estava muito comprometida conduzindo a uma morte mais precoce relativamente a outros crucificados
Assim, cai por terra a absurda teoria de ter sido sepultado inconsciente-Foi sim sepultado cadáver conclusão reforçada como mencionei pelos estudos forenses no Santo Sudário de Turim
Antero de Frias Moreira
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