segunda-feira, 30 de agosto de 2021

JESUS CRISTO MORREU NA CRUZ?Uma reflexão crítica

 

JESUS CRISTO MORREU NA CRUZ?-Uma reflexão crítica

 

Antero de Frias Moreira*

*Medico-Membro executivo do Centro Português de Sindonologia

 

 

 



Imagem do Cristo Sindónico (baseada nos dados de imagem do Santo Sudário de Turim-escultura científica do Professor Juan Miñarro)

 

A pergunta titulo deste artigo, à partida parece ter uma resposta lógica e unívoca, todavia hoje mesmo(29/08/2021) casualmente visualizei um programa do Canal História intitulado «Crimes na Antiguidade», sem duvida interessante, mas que me leva a partilhar convosco a minha reflexão sobre a questão em  titulo deste post.

Efectivamente depois de uma instructiva dissertação forense sobre achados arqueológicos de um assassinato na pré-história, foi abordada a crucificação de Jesus Cristo, precedida do contexto sócio-político da época.

Se o enquadramento que precedeu o evento da crucificação até se pode considerar correcto, pois está de acordo com as narrativas dos Evangelhos e outras fontes nomeadamente obras que abordam o Jesus histórico, quando a crucificação, morte e ressurreição de Cristo é abordada, é dada a entender a forte possibilidade de explicações alternativas ao que é habitualmente assumido como factos pela religião cristã.

Assim, depois de ser afirmado que durante muito tempo a Ressurreição de Cristo ser considerada como factual e corporal, o Iluminismo teria avançado com uma explicação mais racional-CRISTO NÃO TERIA MORRIDO NA CRUZ, MAS SIM FICADO INCONSCIENTE,( a Sua «morte aparente» teria sido muito precoce..) REANIMANDO-SE NO TÚMULO, mais ainda refere que a ferida da lança até poderia ter tido um efeito terapêutico, pois como era provável que Cristo tivesse um derrame pleural hemático (com sangue)  assim teria sido drenado!!!!  – desta forma seriam explicadas as «aparições» do Cristo« ressuscitado» aos discípulos, e até porque no dizer do programa, nunca se soube bem o que aconteceu depois com Cristo.

 

Òbviamente, isto levanta uma questão que além de poder confundir os espectadores (crentes) é um ataque ao pilar fundamental do Cristianismo que é precisamente a crença na Ressurreição (física/corporal) de Nosso Senhor Jesus Cristo,

S. Paulo na sua carta aos Coríntios é bem explícito: «….Mas se Cristo não ressuscitou é vã a nossa pregação e vã é também a vossa fé» (1Cor 15) e «….apareceu a Cefas e a seguir aos Doze. Em seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, a maior parte dos quais ainda vive…» (1Cor 15).

Então o que pensar?

 

                                                                    DISCUSSÃO

 

1-Evangelhos/ outras fontes

Aquilo que está escrito sobre os acontecimentos que envolveram a prisão , julgamento, suplícios infligidos a Jesus, bem como a sua crucificação e sepultamento está escrito nos Evangelhos Canónicos.

Sem dúvida, todos eles relatam que Jesus morreu na Cruz:

«..Mas Jesus com um grito forte expirou..» (Marcos 16-37), « ..Dando um forte grito, Jesus exclamou Pai nas Tuas Mãos entrego o meu espírito. Dito isto expirou» (Lucas 23-46), «.. E Jesus clamando outra vez com voz forte expirou» (Matheus 28-50), «..Quando tomou o vinagre, Jesus disse tudo está consumado. E inclinando a cabeça, entregou o espírito.» ( João19-30).

S. João vai mais além e posteriormente descreve« Mas ao chegarem a Jesus e vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas .Porém um dos soldados trespassou-lhe o peito com uma lança e logo brotou sangue e água» (João 20-33,34)

Tacitus

Na obra deste historiador romano (56-120 A.D.)«Anais» é afirmado que Cristo sofreu a máxima condenação(morte por crucificação) no reinado de Tibério por Poncio Pilatos procurador da Judeia

Flavius Josephus

Na obra deste historiador romano-judeu (37-100 A.D.)é afirmado que Pilatos condenou Jesus à crucificação para morrer.

O programa assume implicitamente que o conteúdo da narrativa dos Evangelhos seria fiável até à crucificação, todavia «ignora» completamente que todos são unânimes na afirmação que Jesus morreu na cruz.

Embora os Evangelhos sejam muito omissos no que concerne aos supliceos infligidos a Jesus Cristo, é perfeitamente admissível que com as agressões de que foi victima, nomeadamente contusões e flagelação tenha desenvolvido derrames pleurais hemáticos (com sangue), não obstante é perfeitamente disparatado e absurdo atribuir um «efeito terapêutico» à perfuração do tórax por uma lança.

Efectivamente a «Lançada» era uma prática consignada nos costumes punitivos romanos, pois destinava-se a confirmar a morte do supliciado pois ninguém deveria ser retirado da cruz com vida.

Assim era mais um acto brutal, e é ingénuo pensar-se que o executor iria apenas perfurar o espaço intercostal até à pleura visceral sem atingir o pulmão ou seja a lança só perfuraria pouco mais de um centímetro…!! -a realidade seria bem diferente, a lança perfurava a parede toráxica, as pleuras, o pulmão e estruturas viscerais mediastínicas como o coração, provocando no mínimo um pneumotórax com colapso pulmonar, o que num crucificado com insuficiência respiratória e em estado pré-agónico seria uma causa de morte praticamente imediata.

Além disso promoveria entrada de bactérias para o tórax com consequente infecção-esta afirmação é um absurdo em termos médicos.

Numa perspectiva médica a drenagem de um derrame pleural é sim realizada em ambiente hospitalar , com todos os cuidados de assépsia e com colocação de um dreno pleural evitando contaminação externa.

Põe-se ainda outro(s) problema(s) que o mentor do programa não teve sequer a coragem de abordar, mas que deverão ser considerados:

Pelas descrições dos evangelhos, o túmulo teria sido selado com uma pesada pedra e teria ficado uma guarnição de soldados do templo a guardar a entrada, para ninguém ir roubar o Corpo.

Assim sendo e mesmo admitindo o ABSURDO DA REANIMAÇÃO DE CRISTO NO SEPULCRO!!! alguém poderá admitir que depois de tantas e tão graves lesões, Cristo teria forças ou capacidade para mover uma pesada pedra? Obviamente que não.

Também os discípulos amedrontados com o que se tinha passado e escondidos numa casa iriam tentar roubar o Corpo de Jesus enfrentando os soldados???- claro que não.

Mais ainda: há várias referências nos Evangelhos às aparições de Jesus Cristo aos seus discípulos (recordo por exemplo o episódio do descrente S. Tomé, o Caminho de Emmaus, o episódio em que Jesus comeu peixe com os discípulos).

Se admitimos como credíveis esses episódios nunca poderemos conceber que os discípulos tenham ido retirar o Corpo do Sepulcro.

Mas se não acreditamos nos relatos das Aparições do Cristo Ressuscitado e admitirmos que os discípulos roubaram o Corpo temos que considerar o seguinte:

Todos os Apostolos, exceptuando S. João morreram de forma violenta por propagarem os ensinamentos do Mestre, e houve uma efectiva mudança do seu comportamento após a morte e subsequentes Aparições do Cristo Ressuscitado, pois o medo deu lugar a um entusiasmo e coragem, a julgar pelas atitudes subsequentes.

Mesmo o historiador E.P. Sanders admite que deve ter havido algo de extraordinário após a morte de Cristo que promoveu tamanha mudança de comportamento nos Apóstolos, e não resisto a transcrever « …Mais tarde, alguns discípulos estarão dispostos a morrer por causa da sua devoção a Jesus e à sua mensagem. A explicação para mudança está no facto de eles terem visto o Senhor ressuscitado e de esta experiência lhes ter dado uma confiança absoluta.»

É pois inconcebível que se eles tivessem roubado o Corpo se sacrificassem por uma mentira, obviamente o que despoletou tamanha mudança foi o contacto real com o Cristo Ressuscitado, não uma alucinação ou criação mental, mas sim uma presença física inteligível aos sentidos humanos.

 

2-Aspectos médico-forenses do Santo Sudário de Turim

Para os que como eu acreditam fundamentadamente, com base em aspectos históricos e científicos que o Sudário de Turim é a mortalha que envolveu o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo no sepulcro e onde estão patentes a Imagem do Seu Corpo (ainda sem explicação científica da sua formação no tecido) e as marcas da Paixão, esta sagrada relíquia (não um ícone), revela-nos dados surpreendentes que confirmam os Evangelhos e preenchem as suas lacunas no que respeita à gravidade dos supliceos infligidos a Nosso Senhor Jesus Cristo.

 

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Fig. 2-Sudário de Turim: lençol funerário com cerca de 4,36 X 1,10 metros sendo visualizável as imagens da região ventral e dorsal do corpo de um crucificado, bem como manchas hemáticas

 

 

Os estudos de Medicina Forense por patologistas credenciados como o Professor Pierre Barbet, Drs. Sebastiano Rodante, Judica Cordiglia, Robert Bucklin, Frederick Zugibe, Pierluigi Baima Bollone entre outros, permitem afirmar indiscutivelmente:

1-A imagem patente no Sudário é de um cadáver de um crucificado de sexo masculino em estado de rigor mortis (rigidez cadavérica que se instala cerca de 2 horas após a morte e pode perdurar por cerca de 30 horas)

2-Trajectos hemáticos (sanguíneos)de sangue arterial e venoso e também capilar correspondendo a hemorragias ante e post mortem.

3-Lesões contundentes graves na face

4-Cerca de 60% da superfície corporal evidencia lesões infligidas pelo terrível chicote romano «Flagrum Taxillatum»

4- Multiplas lesões perfurantes na cabeça e couro cabeludo correspondendo a um objecto de tortura tipo capacete de espinhos

5-Feridas perfurantes no punho esquerdo e pés compatíveis com cravos de crucificação

6-Ferida perfurante na região antero-lateral do hemitórax direito sensivelmente no 5º espaço intercostal- experimentalmente foi constatado que, um objecto perfurante a esse nivel depois de transpor a parede toráxica após um percurso de cerca de 8-10 centímetros atinge a aurícula direita do coração-trata-se da ferida da lança e a mancha adjacente exibe uma porção avermelhada(o sangue proveniente da aurícula direita) e uma porção clara (correspondendo afluído de derrame pleural ou pericárdico) ou seja é a explicação médica para a descrição do sangue e água do Evangelho de S. João.

7- Os trajectos sanguíneos nos membros superiores permitem concluir que o Homem do Sudário tinha os membros superiores a cerca de 65º com a vertical e portanto compativeis com a posição de crucificação.

8-A morte ocorreu na cruz por múltiplas disfunções orgânicas, estado de choque hemorrágico e asfixia

Haverá alguém que conseguisse sobreviver a tamanha brutalidade e agonia na cruz , e depois com o tórax perfurado por uma lança que perfurou o pulmão e atingiu o coração?

A resposta é óbvia-JESUS CRISTO MORREU NA CRUZ, mesmo aqueles que contrariam a conclusão dos peritos que estudaram os aspectos lesionais do Santo Sudário não apresentam quaisquer argumentos válidos em contrário.

Mas a intenção do conteúdo desse programa é na realidade atingir o pilar fundamental do Cristianismo ou seja NEGAR a Ressurreição de Cristo, todavia os factos considerados permitem descartar essas teorias fantasiosas sem qualquer suporte científico, e portanto a questão da Ressurreição de Cristo como um fenómeno transcendente terá obviamente de ser admitida.

 A RESSURREIÇÃO,esse evento único na História da Humanidade, que aconteceu com um único Homem pela vontade de Deus, o GRANDE MILAGRE não foi um mito elaborado, nem uma criação mental/versus alegada vivencia «espiritual» seja lá o que isso for, como defendem alguns pseudo-teólogos, não foi a reanimação de um cadáver como aconteceu com Lázaro ou a filha de Jairo, mas sim a passagem do corpo flagelado e ensanguentado do Cristo Crucificado, para a forma de existência transfísica (não sujeita às leis naturais temporo-espaciais) do Cristo Ressuscitado.

 

                                                                       CONCLUSÃO

 

Mais uma vez os argumentos dos cépticos são absolutamente demolidos com base nos dados dos Evangelhos mas também e sobretudo com os estudos médico-científicos no Santo Sudário de Turim.

Jesus Cristo indubitavelmente morreu na cruz, foi sepultado cadáver envolvido no lençol adquirido por José de Arimatheia e esse lençol é o testemunho vivo da Sua Paixão e o suporte material da nossa crença na Sua Ressurreição corporal transfísica.

 

Referencias

Obras Literárias:

Biblia Sagrada Difusora Biblica Franciscanos-Capuchinhos Lisboa/Fátima 2008

Moreira, Antero de Frias «Sudário de Turim, Mortalha de Cristo ou fraude medieval?» Editora Edium 2012

Sanders E.P. « A verdadeira história de Jesus» Editorial Notícias 2004

Verschuuren, Gerard « A Catholic scientist champions the Shroud of Turin» Sophia Institute Press Manchester New Hampshire 2021

Artigos Científicos:

2 comentários:

Anônimo disse...

Mas nesse documentário afirmavam que a suposta morte de Cristo ocorreu muito precocemente pois os crucificados demoravam muito tempo a morrer na cruz para prolongar o sofrimento por isso seria de supor que só tinha ficado inconsciente e depois ter-se-ia reanimado no tumulo.

maria da glória disse...

Estimado leitor
Obrigado pelo seu comentário.
Escuso-me de repetir que fontes evangélicas e extra biblicas são unanimes como Cristo efectivamente morreu na cruz, todavia não se sabe ao certo o tempo que permaneceu vivo, um dos evangelhos refere que a morte teria ocorrido pelas 3 da tarde.
Seja como for, a resistencia de um crucificado na cruz é função de várias variáveis como a compleição fisica, estado de saude prévio, e sevicias sofridas pre crucificação, portanto o tempo de permanencia vivo é altamente variável.
No caso concreto de Jesus Cristo, há fortes motivos para concluir que estaria desidratado e em jejum, foi alvo de brutais sevicias como agressões contundentes, uma brutal flagelação, lesões perfurantes na cabeça,perdas sanguineas e multiplas disfunções orgânicas pelo que é lógico que a Sua resistencia fisica estava muito comprometida conduzindo a uma morte mais precoce relativamente a outros crucificados
Assim, cai por terra a absurda teoria de ter sido sepultado inconsciente-Foi sim sepultado cadáver conclusão reforçada como mencionei pelos estudos forenses no Santo Sudário de Turim

Antero de Frias Moreira